© andrew gallix
Eu que nem sou muito dado a estas coisas das manifestações de rua e das palavras de ordem, que cada vez mais soam a cânticos ensaiados e propaganda encapotada de alguns partidos políticos, sinto-me triste pelo caminho que "a luta" parece ter deixado de trilhar.
Não estive no 25 de Abril, nem tão pouco no primeiro 1.º de Maio, mas não deixo por isso de considerar absolutamente essencial garantir, em democracia, o integral e discricionário direito à indignação.
Diz-se frequentemente que os portugueses são um povo de brandos costumes, afirmação que sempre me deixou com um amargo de boca. É que quando se brame esta bandeira está-se, no fundo, a traduzir por graúdos a pretensa cobardia e conformismo de todos nós. Não nos revoltamos, não nos indignamos, não questionamos poderes instalados e lugares comuns. E para quê? Para salvaguardar uma mediania que nos afaste dos tumultos da incerteza. Os portugueses nunca se enganam e raramente têm dúvidas (como alguém já disse), pudera, se não reflectem, se não problematizam, se não questionam, como poderia ser de outra forma?
Ao definhar da "luta" tem correspondido o atrofio das causas que, não tendo cessado de existir, parecem ter sido assimiladas por instrumentos de participação mais fáceis e confortáveis - petições online, sites de protesto, entre outros. O "cliente" sente-se bem porque deu o seu contributo e nem sequer teve de fechar o separador da pornografia. Daí a uma hora já nem se lembra se "assinou" uma petição para baixar o IVA ou para salvar as ratazanas autóctones dos esgotos de Sacavém.
"A rua" costumava ser o último (e mais precioso) reduto da indignação, a expressão máxima da força da sociedade civil, ao mesmo tempo respeitada e temida. Observando o que se passa actualmente em França, o paradigma da participação cívica, país modelo no que às lutas corporativas diz respeito, onde as manifestações de alunos e professores parecem esmorecer sem resultados práticos, não posso deixar de sentir que "a rua" está a adormecer e nós (europeus, trocadilho vital) somos a mão que lhe embala o berço.
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