Avenida Central

A Humilde Capital do Trânsito Automóvel

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E agora que podemos usufruir de mais uns metros de desenvolvimento subterrâneo, permitam-me citar um poeta da cidade com quem uma vez, e por um acaso, me cruzei num café junto a uma estação ferroviária. Sebastião Alba viajava muito frequentemente de comboio, os ferroviários conheciam-no mas não sabiam quem era. Sebastião Alba tinha pavor a automóveis e morreu atropelado nas ruas desta cidade.

Circulamos Embolsados

Circulamos embolsados
em automóveis de luxo

Nas portas surdas
os fechos
são linhas a níquel a traçar o limite
dos peões ocasionais

O espaldar desune
anula o solavanco
reduz a área exposta

Esguichos lavam
pára-brisas que a gargalhada abaula
Clareiam as estradas

Só o retrovisor
Lembra o caminho andado
a um olho reflectindo
de quem guia

Trémulo o chassis
pressagia
as roturas
os sulcos dos freios
a divulgação do desastre

Mas real e criada
no bolso de Picasso
uma pomba de bico florido
suja por inocência os tejadilhos.

Sebastião Alba, O Ritmo do Presságio

2 comentários:

  1. a incapacidade dos técnicos e politicos fazerem cidade para as pessoas é inacreditável. tenho vergonha dos meus "colegas" de profissão que se vergam perante vontades e interesses politicos maiores, vitimando indirectamente pessoas e directamente diminuindo a qualidade de vida de todos os bracarenses. estamos condenados nesta cidade de treta (porque isto não é uma cidade no seu sentido e significado) a viver durante várias décadas dependentes do meio de transporte automóvel para micro deslocações.

    rp

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  2. Sobre Sebastião Alba. A vida é traiçoeira e manhosa.

    Muitos daqui, onde me incluo, fugiam desse senhor mal vestido e mal lavado que queria uns trocos para comprar vinho. Hoje estamos aqui a recitar poemas desse senhor e a defender algo que seria da "terra".

    Para pensar...eu pelo menos aprendi alguma coisa

    ResponderEliminar

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"Mi vida en tus manos", um filme de Nuno Beato

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