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Capítulo 33: nos olhos dos outros

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Recebi em minha casa, há duas semanas, um amigo belga que conheci no ano de estudos em Valência. Ficou cá pouco menos que semana e meia e os preparativos para o receber esbarravam no nervoso de não me lembrar de grande coisa para ver em Braga. Prometi-lhe uma visita ao Porto e, quase no fim das férias dele, acabámos por passar também uma tarde em Guimarães.

Não fosse o facto de se ter lesionado no sobe-e-desce das ruas portuenses, provavelmente chegaríamos a meio da semana sem mais coisas para ver; assim, vimos muito pouco, mas ele lá foi embora com uma ideia bastante positiva de Portugal, em especial da cidade de Braga.

É comum ouvir-se "um dia gostava de ser turista na minha própria cidade" e esta, parecia-me, era uma boa oportunidade de o fazer, ainda por cima com os óculos de um europeu da Europa civilizada, limpa, airosa, incorruptível; enfim, um europeu da Europa que tantas vezes invejamos.

Especulava cá para mim sobre o que é que devia mostrar-lhe primeiro, porque já se sabe que a primeira impressão é a que conta mais. E, admita-se ou não, apesar de todos os defeitos que reconhecemos na nossa casa, conduzimos as visitas apenas pelas divisões de que nos orgulhamos mais.

Entre a Sé e o Bom Jesus, o jardim de Santa Bárbara e a mata das Santas Martas, ou o Estádio 1º de Maio e o novo Municipal, algo haveria que o deixasse impressionado e lhe ocupasse o discurso no regresso à Bélgica.

Curiosamente, e apesar de ter gostado de tudo isso, o que o mais impressionou foram duas características que poucos bracarenses reconhecem na sua cidade: a limpeza e a qualidade dos espaços verdes, especialmente pela abundância de árvores.

Indignado, e como bom bracarense que sou, apontei-lhe então os defeitos que, em português, toda a gente grita à cidade: "mas olha, olha para o sítio onde as pessoas deixam o lixo no chão, repara como está sujo. E que dizes tu das árvores plantadas em canteiros de alcatrão? Que espaços verdes são estes que mais que verdes são cinzentos?".

Veio o turista educar-me em amor à cidade-mãe e foi então que percebi o sentido daquele "um dia gostava de ser turista na minha própria cidade": a esperança de que o que se diz da galinha do vizinho ser sempre melhor que a nossa, nos permita olhar, ainda que apenas por um dia, mais ao que há a invejar da nossa cidade do que ao que há nela a desdenhar.

5 comentários:

  1. Pois, é pena que seja necessário chegar um europeu da dita europa civilizada, limpa e incorruptível, essa mesma de pedófilos psicopatas, para se olhar com olhos de ver para a nossa cidade e perceber que afinal as coisas não são bem como nos querem muitas vezes impingir

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  2. Chegaria a meio da semana sem nada para ver porque vocês olham mas não alcançam.Limitam-se a dar uma vista de olhos.
    Não lêm as inscrições e nem se preocupam com a história do lugar.
    Assim até eu vi Paris num dia.

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  3. "O que o mais impressionou [o jovem belga em visita à cidade de Braga] foram duas características que poucos bracarenses reconhecem na sua cidade: a limpeza e a qualidade dos espaços verdes, especialmente pela abundância de árvores".
    Costuma-se dizer por aí: "lá fora não se vê nada disto"; "no estrangeiro as coisas são diferentes".
    O nosso civilizado turista, vindo da capital da Europa, confirmou literalmente estas palavras populares mas deu-lhe sentido oposto: Braga é limpa,arborizada e bela, comparativamente falando, assim falou o hóspede.
    Eu também não partilho daquelas expressões miserabilistas, de auto-humilhação, tão tipicamente portuguesa e tão toscamente bracarenses.
    Braga é a cidade que escolhi há vinte e oito anos, e ainda não troco.
    Gosto deste seu texto, tão higiénico, tão sereno e tão oportuno.
    Obrigado.

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  4. "Cidade maravilhosa,
    cheia de encantos mil,
    cidade maravilhosa
    (...)

    Jardim florido de amor e saudade
    Terra que a todos seduz
    Que Deus te cubra de felicidade
    Ninho de sonho e de luz"

    Amen.

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  5. fernando castro martins2 de maio de 2009 às 08:19

    A cidade de braga é limpa e arborizada, diz uma voz estrangeira.
    Muitas vozes indígenas dizem que é suja e sem zonas verdes, e atiram as culpas à Câmara.
    Eu vejo uma cidade airosa, ainda com limitações nas matérias tratadas, estas pela insuficiência da actuação dos serviços e pelo mau comportamento dos cidadãos. Exemplo? Quem não viu ontem, feriado em quase todo o mundo, a nossa cidade enfeitada de sacos de lixo?
    Quem é responsável?
    Todos sabem que nas vésperas de feriados não se colocam os sacos na rua, excepto quando há determinadas coincidências com o fim-de-semana.
    De resto, verifico que a empresa de recolha sempre avisa se vai ou não prestar o serviço - e fê-lo desta vez também - mas nem seria necessário para os cidadãos praticantes.
    Também vemos que há ruas, bairros e locais mais sujos que outros. Aí, tem cada um o lixo que merece ou de que gosta, mas, ainda assim, estão estes a merecer uma assertiva acção pedagógica, num primeiro acto, e duras penalizações, na reincidência.
    Respeitosamente.

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