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Dos autarcas do interior

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© Manuel Perestrelo

A propósito de um post recente do Pedro Morgado, e pelos mesmos afectos que o Pedro invocou, queria dar aqui um exemplo do funcionamento da política local no interior do país, neste caso na Beira Alta.

A barragem do Sabor foi uma de várias hipóteses de construção de empreendimentos hidroeléctricos na bacia hidrográfica do Douro. Uma das alternativas era a barragem da Quintã de Pêro Martins, no Côa, entre os concelhos de Pinhel e de Figueira de Castelo Rodrigo. A antevisão de uma decisão governamental de construir a barragem no Sabor, afectou a susceptibilidade dos autarcas de Pinhel e Figueira, de modo que a Assembleia Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo aprovou uma moção de repúdio, onde manifestava todo o seu descontentamento pela não construção da referida barragem da Quintã de Pêro Martins.

A mesma moção foi remetida para a Assembleia Municipal de Pinhel, que a aprovou, ipsis verbis. Sendo eu membro da Assembleia, em Pinhel, questionei o executivo municipal, nestes termos: quais seriam o benefícios, a médio ou longo prazo, da construção da barragem no Concelho, que nos façam sentir assim tão revoltados pela não construção da mesma. A resposta foi sucinta: a barragem da Quintã de Pêro Martins teria muito maior potencial hidroeléctrico que a do Sabor. Nada mais.

Posto isto, e tendo evidentemente ficado sem saber quais eram os tais benefícios que nos estavam a ser vedados (os responsáveis autárquicos usaram mesmo o mais que gasto chavão “uma machadada no desenvolvimento do nosso Concelho”), votei contra a moção. Votei contra, e apresentei mesmo uma declaração escrita, para vincar e fundamentar a minha posição.

Fiquei absolutamente estarrecido, quando verifiquei que, num universo de 55 deputados, eu fui o único membro a votar contra a moção, a votar contra a (pouco original) ideia de construir uma barragem no Côa. Todos queriam a barragem! Embora não soubessem muito bem porquê…

Minutos antes, a Assembleia Municipal de Pinhel tinha aprovado a Agenda 21 Local, um documento bastante completo em torno do desenvolvimento sustentado, e que claramente desaconselhava a construção da mesma barragem! Os mesmos deputados que aprovaram a Agenda 21 Local, aprovaram também uma moção de repúdio pela não construção da barragem…

Não sei bem que conclusão deva tirar destas posturas. A verdade é que a ansiedade em torno do “progresso”, leva as pessoas a comportamentos estranhos. É uma barragem. Se fosse uma central nuclear era igual, ela que viesse, “em prol do desenvolvimento do nosso Concelho”.

2 comentários:

  1. Isto só lá vai com A Grande Barragem, ali para os lados do Mar da Palha; é lançar o muro entre o Cais do Sodré e a Trafaria, cota 500, deixar encher.

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  2. Enganas-te; à cota 500 a água transbordaria para o deserto, perdendo-se a água nas areias escaldantes do Alentejo.

    Ao contrário do saque de Roma, em Portugal não são os conquistadores gauleses - entenda-se o Governo - a gritar VAE VICTIS aos vencidos romanos. Não, em Portugal são os próprios romanos a gritar a si próprios que os vencidos não têm direito a protestar. Para suma ignorância, devem mais é aplaudir, e se caso for repudiar quando os gauleses não nos vêm saquear o Tesouro com pesos adulterados.

    Há dias, no filme português "O mistério da estrada de Sintra", a personagem de Eça de Queiroz dizia que "o país perdeu a inteligência". Infelizmente, como nem todos podemos ser diplomatas na Inglaterra, resta-nos mesmo arregaçar as mangas e remar contra esta infecta maré de vendidos/acéfalos, que diz sim porque sim e não porque não.

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