Capítulo 10: ouvir como quem vê
Há um par de meses, tive o prazer de ouvir a Paula Casaleiro e o Pedro Quintela apresentarem o trabalho de audição sociológica que ambos desenvolveram nos centros históricos do Porto e Coimbra. Os dois investigadores demonstram exemplarmente a hipótese levantada por Carlos Fortuna: através da análise das características específicas que marcam as paisagens sonoras urbanas podemos perspectivar a consolidação e o crescimento da cidade.Através da audição em alguns dos locais mais emblemáticos dos centros históricos das duas cidades, e ouvindo esses locais em diferentes períodos do dia, os sociólogos constataram que a musicalidade urbana não é constituída apenas pelos acordes da pós-modernidade, mas também por sons pré-modernos: desde o "assobio" do amolador de facas ao "pregão" do cauteleiro. Como ao olharmos o centro histórico e a mescla de arquitecturas nos apercebemos de como a cidade evoluiu, também ao auscultarmos o centro histórico podemos compreender como a cidade se constrói e reconstrói.
Em Braga, não muito diferente do que acontece no Porto e Coimbra, o centro tem perdido habitantes e ganho visitantes. Por esta razão, foram desaparecendo as mercearias e surgiram as esplanadas e as lojas de roupa; o bulício das manhãs e tardes é silêncio à noite. Como Lefebvre afirma, a cidade é simultaneamente poli-rítmica e a-rítmica, variando consoante o espaço e o tempo.
A ideia que vos deixo hoje é um convite: ver Braga como quem ouve e procurar a musicalidade que Braga parece ter perdido nas nossas memórias.
Pela minha rua passam ainda, ao romper o Outono,os sons da harmónica de beiços de um simpático guarda-soleiro sem fregueses.
ResponderEliminarAinda me lembro das gaitas dos sardinheiros, e de outras, diferentes, dos azeiteiros; bem como dos piropos multissonantes das regateiras da praça.
Quase tudo morreu e não volta mais. Mas há barulho na cidade. Um barulho menos profissional.
Ah! na minha rua passa ainda, todos os meses, um vendedor de batatas que anuncia o produto com altifalante e música do Quim Barreiros.
A cada época, o seu encanto.
Continue a escrever, João Martinho, que tem pelo menos um leitor.
O meu sonho é comprar uma maison ali para os lados da Variante rodoviária da grande cidade.
ResponderEliminarÉ o meu sonho de criança, morar defronte a uma estrada movimentada para me dar um sentido de pertença a uma cidade moderna, viçosa, cosmopolita.
Então se a maison puder ser ali na parte mais aconchegante, melhor ainda.
Ali para os lados do feira nova com um terracinho virado a uns telhados e a uma varanda com vista para a rotunda.
E se houver um "importantíssimo" espaço verde, então é que eu ficava contente, um espacinho meu e de mais 5.000 vizinhos onde podemos, à vez, lembrar como era bom viver em Braga quando ainda não se tinha transformado em Nova Lisboa.