Capítulo 4: "jedes herz ist ein revolutionäre zelle"
Há alguns dias vi Os Edukadores, um filme do austríaco Hans Weingartner sobre os movimentos anti-capitalistas e anti-globalização. Na verdade, não retrata exactamente os movimentos, mas antes aqueles que os compõem; não é um filme sobre ideologias mas sim sobre as convicções que as formam.
Depois de ver o filme, revi "a ética protestante e o espírito do capitalismo" de Max Weber e deparei-me com a seguinte afirmação: "a ordem económica capitalista nos nossos dias é um universo de grandes proporções, que os indivíduos encontram ao nascer, e que constitui para cada um deles, pelo menos enquanto indivíduo, um contexto que não se pode modificar e onde se terá de viver".
Esta obra de Weber completou já cem anos, mas a afirmação não perdeu qualquer valor. Aliás, com a globalização, esta realidade expandiu-se a todo o planeta. E, se por um lado sabemos que grande parte dele está ainda em vias de desenvolvimento, sabemos também que esse desenvolvimento dependerá da vontade do espírito do capitalismo.
O filme de Hans Weingartner mostra-nos que a globalização não alimenta apenas o capitalismo, como também o anti-capitalismo. De câmara na mão, ao estilo de um documentário, Hans apresenta-nos Jan e Peter, os Edukadores. Num estilo quasi-terrorista, Jan e Peter entram em casas de pessoas "com demasiado dinheiro" e, sem roubar nada, alteram-lhes a disposição das mobílias. No final deixam uma de duas mensagens: "Tens demasiado dinheiro" ou "Os teus dias de fartura estão a terminar". Fazem-no para despertar o medo dos donos das casas que "assaltam" e o espírito revolucionário de outros jovens, esperando ser a inspiração de um movimento subversivo. "Todos os corações são uma célula revolucionária", é o título desta crónica e a mensagem que Jan deixa ao senhorio da namorada de Peter, Jule.
Quando um "assalto" corre mal, os três são obrigados a "raptar" o dono da casa e fogem para uma casa de abrigo nos Alpes. Aqui nasce uma relação de cumplicidade entre os raptores e o raptado, outrora um revolucionário de 1968. Hardenberg, o raptado, explica-lhes que a vida é que comanda o que somos e cita a célebre expressão: "aos 20, quem não é revolucionário não tem coração; aos 40, quem não é conservador não tem cabeça".
Os Edukadores é um filme sobre ideias, é um debate entre duas gerações com ideias aparentemente antagónicas. É um filme que, acima de tudo, nos prova que as "boas ideias nunca morrem", apenas se reciclam.
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Para saber mais:
Die Fetten Jahre sind vorbei (The Edukators/Os Edukadores), Hans Weingartner
A ética protestante e o espírito do capitalismo, Max Weber
Excelente post. As palavras de Weber fazem sentido sobretudo nos dias que correm...
ResponderEliminarobrigado pelo comentário, gonçalo.
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