O discurso, falado e escrito, é penoso e roça o bairrismo doentio, crispado, mas tem a razão de ser no óbvio de uma Estação de Televisão Pública que presta pouco serviço ao país que mais precisa dele: aquele da paisagem queiroziana. Limita-se, no jornalismo, às tragédias mais que evidentes, em mortos contados, e raramente vai para lá do hino à província, como circo de labregos, do Portugal Directo, deitado para segundo plano e muito pouco explorado. A vê-lo ser feito, o serviço público, e em horas nobres, muito forçosamente, só na RTPN e no pesado pendor de segunda, que se lhe dá no nome, da RTP2. E em advento da 5ª televisão nacional em sinal aberto teme-se pois, e de certo restará poucas dúvidas, que será mais uma para o cabeção do País.
Nesta lógica, não se percebe o porquê de pagar impostos por aqui, em taxas sobre taxas, no audiovisual, em contas de luz, domésticas ou camarárias, de casas ou de chafarizes iluminados. Sim, e fica o aparte repetido: cada contador de EDP de via pública, de Câmara ou Junta de Freguesia e outros, com fontes luminosas, iluminação de edifícios, públicos e monumentos, paga taxa audiovisual mesmo sem nenhuma televisão ou rádio ligada à tomada. É só fazer as contas e imagine-se quanto pagará cada município em taxas de audiovisual - sem talões, feirões ou outras complicações - e o que lhes oferece a RTP de volta.
Mas voltando ao cerne. Quando os meios de comunicação - e é cliché - são essenciais numa Economia de Mercado e numa Democracia: como fomentadores da actividade económica, no apelo da publicidade com todos os seus convenientes e inconvenientes, e também da actividade cultural, da promoção de lugares e pessoas, imprescindíveis das dinâmicas democráticas, do debate e da própria triagem política e social; torna-se imperativo questionar o que audiovisual tem feito pelo deprimido Portugal para lá da Capital. Ora, neste país feito à imagem da linha de Cascais e do Colégio da Barra, toda a sua diversidade e potencialidade parecem definhar. Neste sentido, e a não ser que a caixa mágica tenha a mesma liberdade de emancipação regional que têm os jornais e as rádios, o Norte - como outras regiões do País na masmorra do modelo administrativo actual - fica refém de ditadores da programação em Lisboa e sem este instrumento, altamente eficaz, para o seu desenvolvimento.
Nesta lógica creio ser importante ponderar uma liberalização regional das televisões em sinal aberto. Imagine-se: Braga, Guimarães, Fafe, Famalicão, Barcelos e outras, ou mesmo o Minho todo, reunidas numa Televisão, a emitir num ou vários canais, conforme a demanda e o espaço, promovendo a região nas suas dimensões, sustentados pelo tecido económico, abrindo espaço de formação e laboratório aos cursos de comunicação social nas Universidades, com telejornais, -matinais, ao almoço e jantar-, a meteorologia, o imaginário local, as tertúlias de ciências da vida e humanas, Oprahs com voz de cana rachada, reallity shows, debates do poder local (sei lá: Mesquita vs Rio; Magalhães vs... e não estou a ver quem, ele ou ela que me perdoe). Enfim... como as verdadeiras televisões de cidade média, grande ou enorme, nos Estados Unidos. Seria coisa grande para o ego, mesmo que o modelo assuste e nos pareça estranho na Europa, e não o será certamente.
E por muito advogados do diabo que possamos ser diga-se que, por ora, as televisões em formato digital (disponíveis na internet) sejam elas a Guimarães TV, o Minho TV ou a Basto TV e outras, pouco podem contribuir para uma mudança deste paradigma em larga escala. E o cabo é, nos preços, muito pouco democrático... Enquanto não houver televisões locais em sinal aberto, a emitir para o romantismo de um televisor na sala, com o sofá preenchido de família e amigos, todo um imenso Portugal - que não Lisboa e arredores - estará em fraca sintonia com os seus cidadãos e as suas dinâmicas, e estes com as suas vidas e interesses limitados num ecrã nacional em constante formigueiro.
"(sei lá: Mesquita vs Rio; Magalhães vs... e não estou a ver quem, ele ou ela que me perdoe)".
ResponderEliminarGostei mais uma vez.
Magalhães não tem mesmo adversário, na mouche.
A taxa audiovisual serve também para a mera "transmissão". Pelas suas palavras finais, as televisões regionais devem tratar, elas próprias das transmissões em sinal aberto? Está também a sugerir que existe dinheiro para pagar essas televisões regionais... com telejornais três vezes por dia e tudo o mais. Está a sugerir que as notícias vão ser de maior interesse do que as que passam no programa sobre regiões da RTP... Está a sugerir que aquilo que rádios e jornais do Minho não fazem (o grosso das notícias limita-se a uma pequena parcela do minho), uma televisão vai fazer? Está a comparar Estados Unidos com o "Minho". Tenho duvidas que Portugal inteiro possa ser, sequer, comparado com uma televisão regional nos EUA. A publicidade que vai suportar esse canal, é igual à que passa na altura da Volta à Portugal?
ResponderEliminarClaro que é tudo muito bonito... e que estará tudo muito mal, em termos de serviço público (principalmente da RTP - mas isso é uma questão que nada tem a ver com televisões regionais; assim como o pagamento de taxas audiovisuais), mas há que pôr os pés na terra.
Quando uma redacção da RTP Norte se muda para Lisboa é muito mau sinal, não acham?
ResponderEliminarDe qualquer das formas não podemos ser tão lineares.
O investimento público ou privado inviabiliza o futuro (e muitas vezes o nascimento) de uma televisão regional.
Os projectos na internet são mais baratos, é um facto, mas também esses não vivem dias "dourados"...
Concordo com o "jam" quando este afirma que a realidade norte-americana é bastante diferente da nossa. Acrescento... o mercado económico também, os investimentos, os regionalismos, etc...
Óhhhh meus, usai os telelés enquanto há sinal!
ResponderEliminarMeus caros!
ResponderEliminarBoas a todos. Eu não estou a comparar o Minho ao Estados Unidos. Não é por aí. O que eu digo é se a Imprensa, ou os meios de comunicação sendo rádio, jornais, revistas e afins, estão liberalizados com a sua expressão regional, porque é que o audiovisual não o pode ser, se houver vontade e dinheiro?
Espanha é o melhor exemplo no que diz respeito a televisão, onde há lugar para canais regionais e locais.
ResponderEliminarHá ainda aqueles que por não conseguirem licença para a emissão terrestre, ultrapassam burocracias emitindo em modo livre por satélite para todo o território espanhol.
Um exemplo a seguir...
Mesmo que tenha alguma simpatia pela ideia, se alguém quiser pensar um bocadinho chega facilmente à conclusão de quanto esta discussão é inútil. Televisões locais, para quê? Como? Alguém me sabe explicar como é que se poderia pagar uma televisão local? Estão a imaginar a qualidade da programação? Basta sair à Galiza e ficar umas duas horas a ver a televisão galega para se ter uma ideia aproximada. E as televisões locais/regionais portuguesas seriam sempre piores. Façam a analogia às rádios locais. Grande parte delas pertence agora a redes e parte da sua programação são pacotes nacionais. Quando se comparam modelos deve-se, por honestidade, fazer assegurar que são minimamente comparáveis. Por isso a pergunta é: Quanto vale o mercado de uma cidade média nos EUA? Quanto vale o mercado das tvs que se defendem?
ResponderEliminarCertas polémicas e causas são de uma inutilidade que dói.
«O que eu digo é se a Imprensa, ou os meios de comunicação sendo rádio, jornais, revistas e afins, estão liberalizados com a sua expressão regional, porque é que o audiovisual não o pode ser, se houver vontade e dinheiro?»
ResponderEliminarEu compreendo isso Vitor, mas não se lembrará da NTV? A única possibilidade é Sic, Tvi ou o tal 5º canal fazerem canais regionais próprios. Mas até nesse situação tenho enormes dúvidas sobre a viabilidade. A produção própria de cada canal regional seria muito limitada; seriam partilhados muitos programas (tal como acontece em Espanha), eventualmente 'reruns' de programas generalistas antigos para preencher o tempo. O último anónimo menciona precisamente a TVGaliza. Tem coisitas interessantes, de facto. Tem notícias regionais, mas o resto não é assim muito interessante. Ou são os tais programas "partilhados", reruns, ou talkshows mais rascas que os que já passam nas manhãs e tardes nos generalistas.
Mas a nível de sustentabilidade, a Galiza tem 3 ou 4 "cidades do Porto", existirá dinheiro (e existirá até um interesse nacionalista). Nós "cá" é que não vemos a RTP Açores e a RTP Madeira, mas rezam as crónicas que é medonho...
Concordo inteiramente, TVs regionais em sinal aberto, � tambem algo que eu ja defendo ha muito.
ResponderEliminarAndam para aqui a dizer que a TV regional ia ser pior, de ma qualidade, mas o que interessa � ter TVs regionais, pois como disse o Vitor Pimenta, autor do texto:
"promovendo a regi�o nas suas dimens�es, sustentados pelo tecido econ�mico, abrindo espa�o de forma�o e laborat�rio aos cursos de comunica�o social nas Universidades, com telejornais, -matinais, ao almo�o e jantar-, a meteorologia, o imagin�rio local, as tert�lias de ci�ncias da vida e humanas, Oprahs com voz de cana rachada, reallity shows, debates do poder local"
S� isso j� � uma vitoria para a regiao mesmo que a TV regional seja pouco interessante para a maioria. Decerto que ter� sempre alguns pontos interessantes, muito interessantes para a regi�o. E mais importante dinamizar� a cultura e identidade regional.
Na Espanha e noutros pa�ses da Europa j� ha TVs "regionais", ou melhor na Espanha nem sao bem regionais, sao mais nacionais, j� que Galiza, Catalunha, Pa�s Basco s�o na�es que nao conseguiram a independencia e estao dentro de Espanha.
O Norte de Portugal (de seu verdadeiro nome Portucale/ Cal�cia) tamb�m � uma na�o que infelizmente est� dentro de Portugal. Relembro que o Norte � a metade Sul da velha Gal�cia e apesar de estar incluida em Portugal, etnicamente e culturalmente o Norte � Galaico-Portucalense ao contrario do Sul que � Luso-Mourisco e n�o Portucalense.
Portanto j� por isto justifica-se uma TV regional ou melhor nacional para todo o Norte de Portugal.
Depois tamb�m justifica-se perfeitamente Tvs Minho, Porto, Braga, TV Tras os Montes, etc.
E nem sempre o facto de ser uma TV para pouca gente e com menos recursos quer dizer que a TV seja pior.
As TVs Portuguesas sao para um publico de 10 milhoes e s�o uma autentica merda, aqueles noticiarios e programas sao do pior que ha. Aposto que se forem a um pa�s europeu com 5 milhoes (Finlandia) ou 8 milhoes (Su�cia), ou Luxemburgo e por ai fora, encontrar�o TVs de muito melhor qualidade e que tem um publico alvo muito menor.
O problema est� que os mouros la da capital nao sabem fazer nada de qualidade. At� a nivel empresarial vemos isso. O norte � que cria e produz, as grandes empresas privadas nascem e sao do Norte. O sul nao faz nada de jeito. Limitam-se a absorver as empresas do norte e a viver das empresas que o estado criou (PT, EDP, Cimpor, Caixa, etc).