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Avenida dos Leitores: Tiros na Água

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O Samuel Silva acha que lá porque a Luísa Ribeiro escreveu que a discussão sobre os 5 projectos tem sido feita nos blogs vimaranenses isso já mostra que é um tiro ao lado dizer que a vida cívica em Guimarães é uma quase inexistência (“mais uma vez”, mas isso fica para outra vez, que já é tarde). Como alguém diz abaixo, talvez seja um caso de confusão entre o real e o virtual. Soma a este brilhante argumento o de que “a própria iniciativa da autarquia dos 5 projectos potenciou a discussão ao abrir aos contributos e opiniões públicas”. Estamos a ver onde a coisa quer chegar. Mas acontece que a discussão não depende, nunca depende, da “abertura” da autarquia às críticas mas sim da força mesma das críticas e dos críticos (“abertura” que só quem desconheça, ou faça de conta que desconheça, os contextos, os personagens e os factos passados, como, por exemplo, os relativos ao aborto da praça da Mumadona, da urbanização das Hortas e muitos outros, pode imaginar). Ora, essa força, em quantidade e qualidade, é pouco mais ou menos que nenhuma. Mais árvore, menos árvore, mais parque menos parque, tudo fica por aí. Entretanto, numa terra com paletes de arquitectos e engenheiros, dirigentes associativos, professores e políticos, nem um só entra no debate (a não ser de modo laudatório), o que sempre reflectirá alguma coisa da natureza da vida cívica em Guimarães.

De qualquer modo, o alvo da minha crítica era claramente dirigido e sobre esse alvo Samuel Silva não disse nada. Talvez por excesso de rapidez na crítica ou por não ter nada para dizer. O meu alvo eram “os … últimos dez anos … marcados por profundas mudanças sociais, políticas e culturais sem que, apesar disso, essas mudanças tenham sido reflectidas e debatidas”. Essas mudanças têm a ver com “fortes posições no âmbito das tecnologias e da cultura, através de um crescendo de equipamentos culturais de enorme qualidade infra-estrutural, bem assim como no discurso sobre as maravilhas da inovação tecnológica e da renovação urbana”. A coisa é clara. O que acontece, e indo directo ao assunto, é que estas mudanças tiveram, em Guimarães, um protagonista quase único: a câmara municipal, nomeadamente através de uma hipertrofia do aparelho municipal, sem que, apesar disso, a qualificação cultural e académica dos jovens vimaranenses tenha crescido o que quer que seja (a não transição para o ensino secundário continua a rondar os 50%!). Ora, as terras de protagonista único e hegemónico nunca se dão bem, pelo menos do ponto de vista do espírito, que a barriga, na nossa sociedade de crise e abundância, sempre tem com que se compor, já que, e pelo menos, a hipertrofia do aparelho municipal tem que alimentar e se alimentar.

Também reflecti (ainda que ao de eleve e à medida do espaço de um artigo de jornal) sobre a “política cultural municipal incapaz do mais modesto contributo para a criação artística autóctone (que não folclórica ou provinciana), de uma política de renovação urbana completamente municipalizada, unilateral e esvaziada de participação cívica (como se o espaço público fosse uma espécie de propriedade do actual poder político e participação fosse o mesmo que anúncio público com assistência bem sentada) e de um modelo orçamental assente na transferência de recursos financeiros das famílias para o orçamento municipal”. Tudo ao lado, claro, mesmo que ainda não se perceba com o que é que Guimarães vai participar na Capital Europeia, mesmo que a tradição de intervenção urbana vimaranense seja claramente tipo despotismo iluminado (como a história do GTL o demonstra) e mesmo que as famílias de Guimarães paguem de modo muito substancial um orçamento municipal de 100 milhões de euros que não dá nenhuma garantia de seriedade política e gestionária, já que cada orçamento é, ao longo do ano, modificado dezenas de vezes (transmutando-o não se sabe em quê a não ser em pura discricionariedade) ante o silêncio da … blogosfera.

Quanto à natureza do blogosfera como novo espaço de cidadania, vale a pena parar um pouco para pensar no assunto e não ir depressa de mais, encadeado pelo brilho da coisa. A blogosfera é, de facto, relevante, mas ainda é ultraminoritária e não substituiu, nem me parece que venha a substitui, a esfera jornalística convencional ou, sequer, complementar aquilo que nela já não funciona adequadamente. Vale a pena, aliás, pensar a possibilidade de a blogosfera funcionar num demasiadamente alto nível de “solipsismo”, quer dizer, num excessivo nível de auto-referência, que, nalguns casos mais furiosos e egocêntricos, leva a confundir o mundo com a representação tecnológica dele. Vale a pena parar um pouco antes de se decretar que a vida cívica migrou, repentinamente, para a blogosfera!

Por último, para que se não pense que falo de cor enquanto eu próprio não digo o que penso sobre o Toural e afins, era minha intenção publicar no JN de ontem um texto sobre o assunto. Mas decisões e equívocos editoriais atiraram o meu texto para daqui a 15 dias. Depois veremos.

Enviado por Francisco Teixeira

18 comentários:

  1. Contrariando um velho costume meu, fruto de um saber de experiência feito que o tempo sedimentou, não posso deixar de expressar publicamente a minha estranheza perante a seguinte afirmação do meu amigo Francisco Teixeira:

    “Entretanto, numa terra com paletes de arquitectos e engenheiros, dirigentes associativos, professores e políticos, nem um só entra no debate (a não ser de modo laudatório), o que sempre reflectirá alguma coisa da natureza da vida cívica em Guimarães.”

    Eu, que sou um dos das “paletes”, não por ser arquitecto ou engenheiro, mas na minha condição de dirigente associativo, professor e, enquanto ser pensante, também político, não posso deixar de sentir que esta mensagem também me é dirigida. E, como já entrei no debate sobre os projectos para Guimarães, presumo que o terei feito de modo laudatório. Ou sou eu que não estou a ver bem qual seja o significado aqui utilizado para a expressão laudatório, ou então há alguém a lavrar em equívoco, provavelmente por não ter tomado muita atenção ao que se publica nos jornais - para não falar no que sai na tal blogosfera, por nela se não fazer grande fé.

    Ainda recentemente foram publicadas num jornal de Guimarães, pelo menos, duas entrevistas (uma de A. Rocha e Costa e outra minha) sobre os tão falados “5 projectos” que só por absoluta miopia podem ser definidas como laudatórias. Mais: mal abriu o debate público, eu próprio, como tantos outros fizeram, fiz chegar a minha opinião à CMG sobre o projecto em relação ao qual tinha uma opinião mais consolidada (o do Toural), que logo tornei pública (é certo que neste meio “ultraminoritário” que é a blogosfera mas que, mesmo aí, mereceu chamadas de atenção por parte da imprensa escrita, nomeadamente do JN). Não falarei da informação que coligi e disponibilizei sobre o Toural, por ser insignificante, já que terei que aceitar que, como o afirma Francisco Teixeira, faz parte da que, “em quantidade e qualidade, é pouco mais ou menos que nenhuma”.

    Quanto à “vida cívica em Guimarães”, aceitando opinião contrária, estou seguro de que está viva e se recomenda, não girando em torno do seu próprio umbigo, como demonstra o debate sobre o Toural, História, presente e futuro que quatro associações de Guimarães (Sociedade Martins Sarmento, Convívio, Cineclube e Sociedade Musical de Guimarães) estão a organizar e que é aguardado com expectativa.

    António Amaro das Neves

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  2. Não, não li as entrevistas do Rocha e Costa e do Amaro das Neves. De qualquer modo, já não preciso, uma vez que o link que me liga à opinião do Amaro é relativamente claro. Entretanto, vou ver se percebo melhor as razões do Rocha e Costa uma vez que o link disponível não me dá a entrevista completa.

    Mas essa é apenas uma parte do meu texto. O assunto vai mais longe. Por exemplo, não li nenhuma opinião do Amaro sobre as Hortas, a Mumadona, as “torres” de S. Gualter, o orçamento municipal, a política cultural municipal, a muncipalização da vida cultural e social local (entrando, até, no coração da própria Sociedade Martins Sarmento), a falta de transparência política e urbanística local, as relações espúrias da política com o futebol local, a assustadora falta de escolarização dos jovens de Guimarães, a confusão e o preço (para não dizer mais) do estádio D. Afonso Henriques, as taxas de saneamento, a proliferação de cooperativas que roubam ao escrutínio político uma parte muito, muito importante do investimento municipal, etc., etc. Claro que o Amaro não tinha que falar sobre nada disto (e até pode ter falado e eu não ter lido, mas pouca gente terá reparado). Mas já que puxou de súbitos galões …

    Pois é, eu acho que o copo da vida cívica local está meio vazio, enquanto o Amaro acha que está meio cheio. Questão de perspectiva, ponto de vista ou nível de exigência. Quanto ao debate anunciado, se puder lá estarei ou acompanharei pelas vias possíveis, ainda que um debate ocasional não desequilibre as minhas contas. Mas registo a satisfação do também meu amigo presidente da SMS.

    Quanto à opinião do Amaro relativamente ao Toural (que agora já li) ela de facto não é laudatória. Mas, já agora, não deixa de silenciar (questão de perspectiva) a manifesta contradição entre o desenho do ante-projecto e aquilo que é intencionado na memória descritiva, a saber, “o reforço do carácter simbólico e identitário do Toural, enobrecendo o seu espaço físico”. O Amaro não diz, como podia, que o ante-projecto é mau, em grande parte porque não corresponde minimamente àquilo que enuncia como orientador do desenho e porque propõe um desenho “internacional”, que tanto poderia ser o desenho de uma praça em Braga como em Viseu ou numa cidade balnear do sul de Espanha. Pelo contrário, o que o Amaro faz é concordar com a memória descritiva (com a qual também concordo), “concordo com a ideia do projecto”, “E também concordo com o objectivo”, e permite-se “algumas sugestões” (boas sugestões, aliás, tirando a das Nicolinas) que, claro, não têm nada a ver com o que lá está, nem sequer com o parque de estacionamento, e que constituem, na verdade, um novo desenho (exceptuando as árvores)! Não, não é laudatório. Mas é delicodoce. Enfim, uma questão de paladares.
    Até breve, meu caro.


    Francisco Teixeira

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  3. Pois é, meu caro Francisco Teixeira, é por saber que jamais seria capaz de fazer mudar uma linha do que pensam pessoas com tantas certezas e tão poucas dúvidas que eu me abstenho de discutir o que, tantas vezes, acho que até merecia a pena ser discutido. Agora, apenas algumas notas:

    1 - Nunca tive intenção de puxar de galões, muito menos súbitos. Apenas acho que quem fala de cátedra dizendo que “numa terra com paletes de arquitectos e engenheiros, dirigentes associativos, professores e políticos, nem um só entra no debate (a não ser de modo laudatório)”, deveria andar melhor informado antes de se pronunciar de forma tão universal, absoluta e terminante.

    2 – Sempre prezei a minha liberdade e o meu livre arbítrio. Quem decide se falo, do que falo e quando falo sou eu. Mais ninguém. Ao contrário do que o meu amigo demonstra no texto que provocou o meu comentário anterior, há uma coisa que eu não faço, por princípio e por formação: não falo daquilo que não sei.

    3 – Quanto à questão dos paladares, antes delicodoces do que ressabiados, porque estes, por força da adstringência rançosa, provocam azia e gastura, o que é muito pouco saudável. Fica-se azedo e tende-se a ver a realidade pintada a preto e branco. Cá por mim, vejo-a mais colorida. Podem-lhe chamar delicodoce.

    4 – Não percebi essa referência à municipalização da vida cultural “entrando, até, no coração da própria Sociedade Martins Sarmento”. Certamente não deve ser para perceber. Ou então, lá está o meu amigo a falar do que não conhece e podia conhecer, porque nunca se negou nenhuma informação aos sócios da SMS.

    António Amaro das Neves

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  4. Quanto ao prólogo.
    Desculpas de mau pagador, que vão a favor do meu argumento.

    Quanto a 1 e a 2.
    O que é próprio de quem não viu é que não viu. Ponto. Não se pode ler tudo e, sobretudo, não se lê, por princípio, certas coisas. Agora o que já não faz sentido é fazer desse não ver um sinal de diminuição, erguendo-o, ao mesmo tempo, como mastro do Pinheiro no Toural, como se uma entrevista de duas personagens, por mais qualificadas que possam ser, represente a salvação do estado de letargia habitual. É, no mínimo, um bocadinho de presunção.

    Quanto a 3.
    Pois, delicodoce. Mas, já agora, de que fala o Amaro quando fala de ressabiamento? Do que transpira da sua resposta (que, por razões bem subtis, bem lhe poderia ser imputado, mas que me protejo de o fazer)? De algum argumento? Não. Essa do ressabiamento é do mais velho que há. É, basicamente, um pobre argumento ad hominem, próprio de quem parece ter sido apanhado na gulodice, ainda com a baba a brilhar de açúcar e com a colher proibida na boca, pretendendo desviar a conversa.

    Quanto a 4.
    Mas eu explico. O que, aliás, é bem simples. A participação da Câmara de Guimarães no capital da Fundação Martins Sarmento faz dela um actor de primeira linha numa instituição que, até então, só dependia dos seus sócios, para o melhor e para o pior. Agora não. Agora tem o Estado (Governo e Câmara) num dos seus núcleos, e isso independentemente de o fazer de modo minoritário ou maioritário. Veja-se a Ministra da Cultura: “É uma honra, na qualidade de Ministra da Cultura, representar o governo português na assinatura deste Protocolo histórico e há tanto tempo esperado, Protocolo este que une o Estado à Sociedade Martins Sarmento…” Ou, mais explicitamente: “O Protocolo que acabámos de assinar reúne Estado, autarquia e Universidade em torno de uma Sociedade de carácter histórico, conferindo-lhe um novo impulso. … Por outro lado, a participação da Câmara contribuirá para reforçar a sua projecção à escala regional, enquanto que a presença do Estado permitirá alargar a sua acção no plano nacional.” Estamos entendidos. Esta realidade é um sinal claro da presença do poder municipal em sítios até então considerados inauditos. De que dúvida é que, afinal, se fala? E isto, claro, sem nenhuma insinuação, sem esconder nada a ninguém e completamente às claras. O que torna a coisa ainda mais significativa. Quem pensa que isto não tem significado é porque a doçura das relações com o poder já lhe dissolveu o palato.

    Francisco Teixeira

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  5. Meu caro,

    A única razão que me levou a escrever o meu primeiro comentário foi a sua afirmação (que, ao que percebo, já reconheceu que não tinha fundamento) de que em Guimarães nem “um só entra no debate (a não ser de modo laudatório)”. Nada mais. E, como ficou demonstrado, e reconhecido, havia aqui alguém que não eu, a ditar sentenças definitivas sem conhecer tudo o que deveria ser conhecido sobre o assunto em que se assumia juiz.

    Quando usei o termo ressabiado era apenas, e tão somente, para seguir a linguagem gastronómica que o Francisco Teixeira introduziu para apreciar os meus argumentos (no sentido que lhe é dado nos dicionários: aquilo que tomou o sabor do ressaibo; mau sabor; mau gosto; ranço). Nada mais do que isso. Se resolveu enfiar alguma carapuça que eu não teci, peço desculpa, mas o problema é seu, não meu. Quanto ao mais, não se proteja, meu caro, não se proteja. Esteja à vontade, se tem alguma coisa a imputar-me, pessoalmente, quanto ao que parece insinuar com a alusão enigmática à “baba a brilhar de açúcar e com a colher proibida na boca”, porque, sinceramente, não percebo onde quer chegar. Ficar-se pela insinuação, além de deselegante, não abona grande coisa em relação à elevação moral de quem assim se fica.

    Quanto ao que me explica, apenas lhe digo que, certamente porque não quis, não percebeu nada do que estava em jogo com a criação da Fundação Martins Sarmento. Só acho muito estranho, além de absolutamente despropositado, que tenha vindo para aqui, agora, com esse assunto. Se tinha assim tantas certezas, teve muitas oportunidades, ao longo de vários anos, para expressar as suas ideias. No lugar certo. Como o fizeram tantos outros sócios da Sociedade Martins Sarmento.

    Quanto à referência à dissolução do palato por força da doçura das relações com o poder, isso não deve ser comigo, presumo. As minhas relações com o poder municipal (suponho que é a esse que se refere) foram sempre as mesmas: com a preocupação de preservar a dimensão institucional, colaborantes, independentes e, nunca por nunca, subservientes. E quando digo sempre, digo sempre. Quanto a isso, nada mudou da minha parte, mesmo em relação ao tempo em que Francisco Teixeira estava do lado do poder, que ainda é o mesmo que hoje lá está. Não será o meu amigo que me dará lições de independência, nem de coerência, nem de postura cívica.

    Diz-me que desvio a conversa. Curioso argumento. Eu apenas vim aqui esclarecer uma afirmação sua, que me pareceu mal fundamentada, a propósito da discussão dos “5 projectos para Guimarães”. Responde-me com “as Hortas, a Mumadona, as “torres” de S. Gualter, o orçamento municipal, a política cultural municipal, a municipalização da vida cultural e social local”, etc, etc, etc, e eu é que desvio a conversa?
    E, posto isto, vou-me à vida, porque tenho muito mais o que fazer do que deitar conversa fora.

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  6. A conversa vai interessante...

    Já agora,será q o sr. Francisco Teixeira, em maré de denunciar os podres da Camara de Guimarães pode esclarecer um dos maiores mistérios de sempre da pequena politica vimaranense: pq é que se deixou escorraçar, com o rabo entre as pernas, do cargo de vereador da cultura do Dr. Magalhães? Presumindo a possibilidade de haver alguma irregularidade pelo meio, suponho que desse esclarecimento não virá mal ao mundo, já q, passado tanto tempo, já deve ter prescrito.

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  7. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  8. Vale a pena lembrar como a coisa começou. Começou com um texto no JN em que nem sequer falava do debate sobre os “5 projectos”. Falava, em concreto, de outras coisas e, tomando essas coisas como sintomas, tirava conclusões, nomeadamente sobre a pobreza do debate cívico em Guimarães. Tomando uma crítica a este meu texto, focalizada nos “5 projectos” (de quem nem sequer falei), fiz um outro texto em que, sobre os “5 projectos” dizia o seguinte: “Mas acontece que a discussão não depende, nunca depende, da “abertura” da autarquia às críticas mas sim da força mesma das críticas e dos críticos (“abertura” que só quem desconheça, ou faça de conta que desconheça, os contextos, os personagens e os factos passados, como, por exemplo, os relativos ao aborto da praça da Mumadona, da urbanização das Hortas e muitos outros, pode imaginar). Ora, essa força, em quantidade e qualidade, é pouco mais ou menos que nenhuma. Mais árvore, menos árvore, mais parque menos parque, tudo fica por aí. Entretanto, numa terra com paletes de arquitectos e engenheiros, dirigentes associativos, professores e políticos, nem um só entra no debate (a não ser de modo laudatório), o que sempre reflectirá alguma coisa da natureza da vida cívica em Guimarães.”

    Na sequência deste meio parágrafo, 129 em 831 palavras do conjunto do segundo texto, o Amaro toma-se de brios e diz-me que não sei do que falo porque ele, e o Rocha e Costa, deram umas entrevistas a um jornal local, que a entrevista dele não foi nada laudatória e que, ao contrário do que eu digo, a vida cívica em Guimarães “está viva e se recomenda”.

    Nesta sequência, assumo que não li nem sabia das entrevistas referidas, mas defendo que isso não muda o essencial das conclusões que retirei relativamente à natureza da vida cívica em Guimarães, mostrando, com vários exemplos e sem mudar de assunto – porque era isso que estava em causa desde o início – que o meu argumento mantinha a sua força. Pelo meio fui ler, entretanto, a posição do Amaro, e concluo que ele, afinal, não gosta nada do projecto do Toural (como eu), embora goste das intenções da memória descritiva (como eu). Mas também concluo que a sua posição é, nesse particular, e quanto à forma retórica, delicodoce, i.e., discorda do projecto mas escreve “quase” como se concordasse. Questões de estilo, digo eu.

    O Amaro, então, quebra o verniz e acusa-me de ressabiado. Mas aos meus argumentos diz nada. Questões de estilo.

    Diz a seguir o Amaro que, afinal, “o termo ressabiado era apenas, e tão somente, para seguir a linguagem gastronómica que o Francisco Teixeira introduziu para apreciar os meus argumentos (no sentido que lhe é dado nos dicionários: aquilo que tomou o sabor do ressaibo; mau sabor; mau gosto; ranço). Nada mais do que isso. Se resolveu enfiar alguma carapuça que eu não teci, peço desculpa, mas o problema é seu, não meu”. Mas este tipo de justificação é, mais uma vez, de mau e triste pagador, pelo que fico absolutamente esclarecido.

    Quanto à “baba a brilhar de açúcar e com a colher proibida na boca”, não se trata de nenhuma insinuação. Mas da constatação de que a hipersensibilidade do Amaro só se justifica por lhe ter tocado num ponto sensível.

    Diz, a seguir, o Amaro, que “Não percebeu nada do que estava em jogo com a criação da Fundação Martins Sarmento”. Pois sim, mas porque é que não percebi, já que as minhas asserções foram tão às claras? Onde estão os argumentos que mostram que não percebi? Sim, eu sei, o Amaro tem mais que fazer e não tem tempo para discussões (ele é muito importante). Mas continua: “… acho muito estranho, além de absolutamente despropositado, que tenha vindo para aqui, agora, com esse assunto”. O assunto não tem nada de estranho ou despropositado. É que este assunto, a presença da Câmara de Guimarães (e já agora da de Braga, de Cabeceiras e de outras) no mais íntimo da sociedade civil, com a concordância desta, é um dos principais argumentos a favor das minhas teses iniciais, entretanto completamente elididas pela falta de rigor e pelos argumentos ad hominem.

    “Se tinha assim tantas certezas, teve muitas oportunidades, ao longo de vários anos, para expressar as suas ideias. No lugar certo. Como o fizeram tantos outros sócios da Sociedade Martins Sarmento”. Óh, caríssimo, então agora queres decidir o “lugar certo” onde posso falar e escrever?! Bhá! Isso é algum tique?!

    Quanto ao que explico, a coisa é simples. Dizer que a profunda intimidade entre a SMS, a Câmara e o Governo (no âmbito da Fundação Martins Sarmento) não tem nenhuma relevância para a diminuição da autonomia da sociedade civil local ou releva da mais pura cegueira sociológica ou, igualmente grave, de um sentimento de culpa de quem fez o que talvez não devesse. Não vale a pena estar a fingir inocências que se não têm. Objectivamente, este acordo para a “Fundação Martins Sarmento” aumenta o poder e o braço do Estado em Guimarães e diminui a autonomia da sociedade civil. O resto é hipocrisia. Será que ouviste o discurso da Ministra? “E destaco também o papel da Câmara Municipal de Guimarães, que soube compreender a importância de um projecto como este, associando-se de forma dinâmica, empreendedora, e contribuindo de forma vital para a concretização do momento que acabámos de viver. Não tenhamos ilusões: desta aliança entre Estado e Autarquias depende, em absoluto, o desenvolvimento cultural do país, factor incontornável de progresso e de bem-estar social para todos nós, portugueses, de norte a sul do país.” “Vital”, leste bem? “Vital”. Quer dizer, e segundo a Ministra, que sem este envolvimento da Câmara o projecto não se realizaria (e não se realizaria a própria SMS já que este projecto, tens dito, é estratégico para a SMS). Há quem fique contente com estas coisas, como, pelos vistos, tu. Eu não, eu gostaria que as coisas tivessem sido diferentes.

    Por último, dizer que este poder é o mesmo relativamente ao qual eu estive ao lado, quando fui vereador municipal, durante dois anos e meio, há 13 anos atrás!, quando a câmara tinha um orçamento de cinco milhões de contos quando hoje tem de vinte (com tudo o que se passou pelo meio), só releva da mais pura desonestidade intelectual, para não dizer mais.
    Quanto às “lições de independência”, é bem discutível, como se vê, que a “Fundação Martins Sarmento” seja lá grande medalha (que eu não tenho), quanto à “coerência” e à “postura cívica”, teríamos que arranjar um medidor, o que não deixaria de ser ridículo, aceitando que a “coerência” é lá grande valor, já que há quem diga que não é, senão, sinal de estupidez e ou cobardia cívica. Mas não fui eu que pedi essas meças infantis.

    Quanto aos desvios ao núcleo dos meus textos, não fazes outra coisa, desde o início. E remeto-te para o início deste texto.

    Queres parar de deitar conversa fora e ir à vida? Fazes bem.

    Francisco Teixeira

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  9. Desonestidade intelectual? Estamos conversados!

    Porque tudo tem limites, até a paciência, ponto final.

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  10. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  11. Sr. Pedro Morgado,

    Confesso a minha desilusão por ver que, neste espaço, a liberdade é suficientemente ampla para para se atacarem pessoa de bem lançando atoardas e dizendo as maiores alarvidades, como aquela de que a coerência é sinal de estupidez ou cobardia, e não se pode confrontar quem o diz perguntando-lhe q moral é q tem para se atrever a tal. Lamento perceber que a Avenida Central abriu as portas a gente assim. Nem imagina quanta deixará de cá vir só pela repulsa q lhe causa essa personagem.

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  12. Apelo a todos os comentadores para que sejam moderados nas intervenções que fazem neste espaço.

    Cumprimentos,
    PM

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  13. Já q se pede moderação, direi o q já disse, mas desta vez tentarei ser moderado, o q nem sempre é fácil. Mas prefiro fazê-lo do q deixar de passar por este blog, q mt aprecio.

    Não saberá o sr. Pedro Morgado que o sr. FT foi, há mais de uma dúzia de anos, vereador socialita da maioria socialista q ainda hoje está à frente da Câmara. Tinha o pelouro da cultura. Depois de ter estado uma temporada fora da Câmara devido a uma cirurgia complexa(julgo que à coluna), o presidente (o mesmo de agora) decidiu tirar-lhe o pelouro e o sr. FT saiu, pelo seu pé, sem nada dizer em sua defesa, da Câmara, podendo lá ficar se assim o entendesse. A coisa parece q foi grave(disse-se que os vereadores da oposição foram todos informados do moticvo do "despedimento" e ninguém saiu em defesa do despedido), mas, diz-se tb q por piedade, nunca foram divuldados por ninguém.
    Passados uns tempos, o homem parece tomado de uma estranha sanha mórbida, atacando aqueles que antes tinham sido os seus e assumindo como seus inimigos todos os q não fazem o mesmo. O mais curioso é que passa a vida a dizer q em Guimarães não há cultura, que está tudo parado, quando a evidência demonstra o contrário, como se fosse a pitonisa cultural da cidade, mas não dá a cara em nenhum acto cultural passado em Guimarães. (pergunto-me mesmo se já terá posto os pés no Centro Cultural Vila Flor).
    Portanto, com tal currículo, quem é ele para vir dar palpites sobre o q acontece ou não na cultura em Guimarães ou atacar quem de facto trabalha p q em Guimarães haja cultura? Antes de atacar os outros, devia era pensar em explicar os seus actos e pq é que ganhou tamanho ódio a quem andou com ele ao colo.
    Agora, restam-me lamentos: lamentar q o sr. Pedro Morgado lhe tenha dado guarida (vai ser o diabo para se ver livre dele!), lamentar q o Amaro das Neves lhe tenha dado corda, e lamentar que eu próprio perca tempo com tal gente.Como dizia o meu avô, ninguém me mandou ser burro.

    Saudações.

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  14. Senhor Pedro Morgado o senhor afinal é um censor pior do que o senhor Francisco Teixeira e não vou sossegar enquanto não disser isso a muita gente. Porque razão apagou o meu comentário de ontem à noite? Tem medo de alguma coisa do que escrevi ou faz parte da mesma agremiação?

    Está no seu direito apagar este texto pois o espaça é seu mas ele vai ser publicado em vários locais esteja sossegado.

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  15. Caro Pedro L. Freitas,

    O Avenida Central tem uma secção destinada à participação de leitores. Foi nesse âmbito que o texto foi publicado. Eu próprio, porque sou parte da blogosfera do Minho que se interessa pelos assuntos de Guimarães e que tem promovido debate em torno do Toural tanto no blog como na rádio, sou alvo de crítica no texto deste post. Ainda assim optei por publicá-lo.

    Os comentários, tanto o seu como o do Ricardo Gomes, foram apagados porque não estavam de acordo com as regras definidas no topo desta caixa («Qualquer comentário não assinado cujo conteúdo seja considerado ofensivo será removido.»). Bem sei que o conceito de ofensivo é relativo. Peço-vos, portanto, que compreendam se alguma vez foi injusto na moderação.

    Quantos aos ataques ao Professor António Amaro das Neves, penso que este post de há vários meses(http://avenidacentral.blogspot.com/2007/09/histrias-do-minho-na-internet.html) diz o que penso sobre o Presidente da Sociedade Martins Sarmento.

    Caro Ricardo Gomes,
    Clubes só pertenço a um. Chama-se Sporting Clube de Braga e não consta que os jogadores equipem de avental. Peço-lhe que compreenda que a minha única intenção é manter o debate no campo das ideias e nunca das pessoas.

    Cumprimentos,
    Pedro Morgado.

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  16. Senhor Pedro Morgado,
    o que sobressai da forma de escrever do senhor Francisco Teixeira é a sua pessoa. O senhor Pedro L. Freitas fazia uma pergunta concreta por isso supus como óbvia a posta colocada por mim e a discussão que se ia fazendo. Mas percebo bem a sua reacção senhor Pedro Morgado. Embora não aceite o corte da mesma não estou zangado. Obviamente a última palavra é sua porque o espaço é seu e o senhor faz dele o que muito bem entende. E faz bem.

    Por mim esta tentativa de achega sobre a forma de agir e de pensar do senhor Francisco Teixeira morre por aqui, mas antes deixe-me dizer-lhe: o senhor abriu esta sua avenida a outras pessoas, portanto ela deixou de ser só sua.

    Melhores cumprimentos

    PS - foi bom o senhor Pedro Morgado mostrar também aos bracarense a personalidade do senhor Francisco Teixeira. Guimarães fica-lhe muito agradecido.

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