O título do post, na parte entre aspas, pode parecer estúpido mas tem um senso de ironia e o sarcasmo que foram êxito de uma de muitas bandas, na histeria de uma Braga punk e do pós-punk depressivo. Essas ou outras denominações de movimentos no rock, pop e afins, que proliferavam nos anos 80. Era hino ao desconhecimento perante o flagelo que vinha desintumescendo a década desbragada. Naltura caía o Theatro Circo num coma de 20 e tal anos, depois dos Mão Morta lhe desfazerem bancos e balcões num turbilhão de lascas de madeira e lâminas canela abaixo. E o sangue, bem mais real que o das letras de Adolfo Luxúria Canibal, tinha a par do esperma e leite materno, conotações de vectores de morte. Para alguns suor e visco. E continua...
[Isto, contado por tios, primos, amigos de maior idade e lido, porque dos Mão Morta ouvi a voz e os rifes de guitarra, em fita magnética, era eu miúdo com a cabeça em castelos de Guimarães e com Serra da Estrela tida tão próxima na neve sobre a Serra da Maçã. Naltura até tremia só com o nome da Banda, mas agora não tenho o medo que tinha...]
Era esta outra herança cultural bracarense que me chegava, para lá dos monumentos a Deus encomendados por D. Diogo de Sousa, outras obras de Mesericórdia, hospitais para a peste e para a pobreza, torres de Igreja como falos da cidade virados ao céu e sem preservativo, com padres e confrarias metidas dentro, seminários onde me queria o meu avô. Era e resiste hoje na instatisfação de muitos agentes e tribos de intelectuais da urbe, contida por fora, com a tal impressão de que já houve mais. Isto porque depois de cidade-berço do salazarismo e do Estado Novo, no seu exército de burgueses e soldados parolos, a Braga de 80's foi ninho explosivo da boémia no bom e no mau que se lhe associam. Entrava música. Era porta de entrada muito premeável e aberta, como cidade romana, a música e estilos de vida, penteados e roupas de fazer corar beatas saídas dos congregados. Quem sabe matá-las de coração.
E dedicada está a crónica hoje, porque é dia, ao que o turbilhão de artes trouxe junto, pregado nas glandes e mucosas de muita gente, ou então embebido nas agulhas. O vírus de uma doença pior que a tísica e que, por obra ou desgraça divina, nos levou António, mas que lhe poupou a criação e o que restou dela. Comida e recozida por quantos artistas nascidos depois dele, ou ainda nas fraldas, já ele arrefecia mortalhado. A mesma ignorância e o medo, por tantos que caíam na cama magros, espintalados de roxo e com bolor na língua, calaram Braga e os desvairados nos anos que se seguiram. E clamparam a torrente e a criação. Embrulharam o país e a cidade num estado acrítico com o avançar do betão na paisagem e do betume na alma. Deram paz a um governo de figuras de mão-de-ferro, messias de prédios como colmeias, umas em cima de outras, e vias feitas por meia-medida, capitalismo conservador em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Era o castigo à má-vida e ao abuso das partes ao dependuro e das veias do corpo. De repente, vieram os 90's vividos como ressaca deprimente, atordoada de um dinheiro vindo e virado a nada. E com pouco onde se agarrar os doidos, caída que estava Berlim, a União Soviética e o muro. O vírus, esse, permaneceu indomado e insidioso. Ignorado por muita gente que não lhe conhecia as forças e as fraquezas. Destes juízes e outros doutores de direito, e médicos alguns, exemplos tristes da condição de um país de analfabetos literados. Restritos a preconceitos estabelecidos, nas ciências e artes, vítimas da educação pública dada como tabuada, pré-cozida e pouco pensada. Felizmente raros, cada vez mais, mas com as suas tiradas em acórdão indignas de capa de jornal.
Mas é verdade que vem voltando a cultura. Renasce em Braga e no País, pela mão das gerações mais esclarecidas de hoje, com tanta informação que nos entra ecrãs dentro, muitas delas nascidas nessa mesma década. Mais imune portanto. Porque prova é que maleitas vindas de súbito, VIH-SIDA como noutra enfermidade, mesmo nas doenças intelectuais como ideologias ao ódio e à supremacia, não há desfloração que cure, nem comida que infecte. Há apenas uma noção de que aos ignorantes e aos que insistem neles mais depressa lhes cai Jericó e as muralhas em cima.
Avenida do Mal rima com Adolfo Luxúria canibal.
ResponderEliminarMão Morta/Texto Vivo.
Não foram os Mão Morta que destruíram o Theatro Circo, foi o público que enchia por completo a sala; a multidão estava num estado de loucura colectiva, completamente extasiada e desgovernada. E não foi nesse concerto de 1993, nem tão pouco em Braga, que o Adolfo Luxúria Canibal cortou a perna. Há um livro, Narradores da Decadência, que além de ser um documento biográfico dos Mão Morta, é o único e mais fiel testemunho da mítica movida bracarense.
ResponderEliminarDe resto, uma vez mais um belíssimo texto.
Bem. Obrigado.
ResponderEliminarEu sei que foi o público que destruiu o Theatro Circo, Godinecstazy. Mas confesso que sei o resto por ouvido sem a certeza que tu tens, dos espaços e alturas.
O texto foi feito de impressões, coisas contadas de boca e localizadas num espaço/tempo mais esticado e abrangente. Porque da mesma maneira foram esticados os anos 80, nas suas virtudes e defeitos, pelos 90's dentro.
Texto brilhantina, como o produto utilizado na cabeça, para reluzir e tornar um pouco mais edificante o sujo ou porcalhento cabelo do desajeitado.
ResponderEliminarBem, já tinha ficado com esta impressão, de alguns textos seus. Pode até ser «um belíssimo texto», como diz o godinecstazy, mas (e é a minha *sincera* opinião) é uma beleza aparente, de fachada. Rebuscado demais, com pouca objectividade. Além disso, essa "rebusquez" não facilita a fluidez da leitura. Aparenta beleza quando apenas artificialmente o é.
ResponderEliminarNão sei porquê, os outros posts do seu blog, no geral, não (me) transmitem esta ideia. Mas parece(-me) que nestas crónicas pretende fazer algo que não (me) parece que conseguirá.
Creio que ninguém lhe exige que empregue tantos adjectivos e torne estas crónicas em tratados pseudo-literários. São crónicas de opinião. Não pretenda que sejam mais do que isso, até porque no aspecto "literário", como já disse, faz como que pareça artificial.
Texto feito por alguém que de facto não conheceu esse fantástico e único período da cidade de Braga nem se preocupou em se informar. No entanto, vale por, de alguma forma, ter relembrado o período dourado da cidade de Braga. Quem viveu, viveu... quem não viveu apanhou apenas o período actual da cidade de Braga: novos ricos, gente vazia e acomodada que se encontra totalmente desligada da sua cidade.
ResponderEliminarMuitos que viveram esse período dourado também se foram transformando, como sendo o melhor(pior) exemplo os próprios Mão Morta. Não o Luxúria que continua a ser o mesmo mas o baterista (esse tal de miguel pedro) que conseguiu retirar toda a credibilidade aos Mão Morta.. Tiveram uma excelente intervenção a acordar as consciências da cidade nos anos 80 e agora esse miguel pedro é uma das figuras da câmara mais "duvidosa" de todo o país.
Enfim..mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Cresci a ouvir Mão Morta, perdi a conta ao número de concertos que assisti, tinha orgulho que Braga tivesse dado origem a uma das melhores bandas que conheci (portuguesas e não só). Hoje confesso que não consigo ouvir Mão Morta por causa desse tal miguel pedro e nem recomendo a banda a ninguém.....Uma pena.
Bem. É verdade admito. Foi escrito sem conhecimento de causa talvez. Do ouvido por alto. Convém levar uns pontapés nos tomates de vez em quando. Serão levadas em conta as vossas borrifadelas.
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