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Estado de Letargia

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Num texto inteligente, Francisco Teixeira denuncia o «silêncio social e crítico da massa cívica existente» em Guimarães «como se, na verdade, essa massa não existisse». No sentido de pontuar o silêncio, três blogues vimaranenses (Colina Sagrada, Ócio e Mater Matuta) estão a organizar um encontro informal para debater os 5 Projectos com que a autarquia vimanarense pretende revolucionar a cidade. Escreve Luísa Teresa Ribeiro, no Diário do Minho, que este «debate surge na sequência da troca de ideias que tem acontecido na blogosfera sobre os projectos para Guimarães». Salientando o papel importante dos blogues «no debate acerca da polis», a jornalista acrescenta que «em Braga, a discussão é bem mais pobre.»

O debate em torno dos principais temas da(s) cidade(s) tem que evadir-se dos gabinetes técnicos e das tertúlias partidárias. Embora os sinais e sintomas sugiram que a doença bracarense é mais pronfunda e prolongada, o estado de letargia é global. O próprio Francisco Teixeira adianta que «o Governo, os tribunais e as elites estão cada vez mais conservadoras, crescentemente intolerantes face à crítica e ao dissenso e a vida está cada vez mais difícil e incerta». Já em Julho passado, Manuel Alegre escrevera que «talvez os fantasmas estejam na própria sociedade e sejam fruto da inexistência de uma cultura de liberdade individual.»

A inexistência dessa cultura de liberdade individual não pode deixar de ser lida como consequência de uma sociedade que subverte a responsabilidade individual e cívica, que enaltece a ignorância e o desconhecimento científicos, que perpetua legislativamente o preconceito infundado e o moralismo bafiento, que se deleita com o boato e a denúncia anónimos e que se vulgariza na exploração da miséria e da tragédia alheias.

Sociedade em que os não-alinhados (com voz) rareiam, fazendo com que o amargo sumo quotidiano se esprema entre uma turba alienada e uma trama de pequenos grupos de grandes interesses.

Sociedade em que o rumo dos partidos políticos é cada vez mais complexo e menos coerente. Embora sejam uma pedra basilar do regime democrático, os partidos políticos não podem deter o exclusivo do debate sobre a res publica, sob pena de nos condenarmos colectivamente a uma indesejável oligarquia.

Sociedade em que o medo e o comodismo, brilhantemente sintetizados no 'país dos brandos costumes', fazem parte do código genético da portugalidade, são a nossa marca distintiva, impregnando de silêncio o debate público. Até um dia.

[Picture Copyright: Pedro Guimarães]

10 comentários:

  1. Como Luisa Ribeiro nota na crónica no DM, a discussão tem sido feita nos blogs vimaranenses. E a própria iniciativa da autarquia dos 5 projectos potenciou a discussão ao abrir aos contributos e opiniões públicas. Por isso é que me parece que a crítica de Francisco Teixeira é, uma vez mais, um tiro ao lado.

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  2. Caro Samuel,

    Será que os blogues não serão a excepção que confirma a regra?

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  3. Acho que os espaços de opinião e debate se têm vindo a mudar. Há pessoas que ainda não acordaram para essa realidade. E há ainda que notar que em boa parte não entendemos a devida dimensão que devemos dar a esses espaços alternativos de cidadania.

    Assim se compreende que um blog local tenham milhares de visitas e dezenas de comentários em cada post. Porque as pessoas querem discutir. E fazem-no hoje, provavelmente, mais do que no passado. Porque têm acesso a novas ferramentas e a opinião deixou de ser o espaço de uma dúzia de "iluminados".

    E os blogs não são caso único. As pessoas ainda se mobilizam.

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  4. Por favor não falem do Alegre, pois o problema principal dele para com o orçamento/08 de Sócrates, é o frio na Assembleia da República.

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  5. Mais uma vez Guimarães à frente de Braga, e quem está a escrever é um bracarense.

    É impressionante com este presidente de câmara, lobby dos construtores e mais alguma figuras conseguiram adormecer uma cidade inteira e disporem dela como bem entendem. Impressionante como os bracarenses se desligaram da sua cidade e ficaram tão indiferentes ao rumo da mesma.

    É triste caros bracarenses, é triste...

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  6. "É triste caros bracarenses, é triste..."

    Mas mais triste é desconhecer que em Braga até há espaços onde há bracarenses ligados à cidade.

    Conhece a "Velha-a-Branca"?

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  7. "Sociedade em que o medo e o comodismo, brilhantemente sintetizados no 'país dos brandos costumes', fazem parte do código genético da portugalidade........."

    Quanto de verdade.

    Que se importa uma pequena Velha-a-Branca rodeada duma "sociedade em que os não-alinhados (com voz) rareiam"

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  8. Ainda gostava de saber o que é que o nosso amigo anónimo que me antecede tem feito para combater o que critica em Braga... Provavelmente é dos que preferem vir a um blog mandar uns bitaites que ouviu lá na jota, mas nem sequer conhece as várias tribunas da cidade onde vive... Mas, não era a Guimarães que o post se referia?! Alguém anda muito nervoso...

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  9. Há, naturalmente, quem confunda o écran com a realidade, a "comunidade" bloger com a vida cívica. Quem, no fundo, confunda o virtual com o real. Mas não passa de confusão. Questões de egotecnologia. De fetichismo.

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