Avenida Central

A Ofensiva Neoliberal

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«Os custos decorrentes de uma deficiência genética e de certos cancros devem ser comparticipados a 100%.
O mesmo não acontece com os problemas auditivos da geração 'iPod'.»

Tiago Mendes, defendendo um sistema de saúde tipo auto-estrada utilizador-pagador, acaba por resvalar para um comentário acusador, sempre indesejável quando se fala de saúde. É que, quando se julgam os comportamentos dos outros, corre-se sempre um grande risco de errar. Desde logo, porque o fazemos mediante as nossas próprias construções mentais, porque nunca saberemos o que é 'ser o outro com o seu ser e as suas circunstâncias' e porque não temos o direito de dizer a ninguém o que é certo e o que é errado.

O Tiago devolve-nos uma visão medieval da doença em que era encarada como um castigo que acometia os prevaricadores. Recupera também a ideia de saúde caritativa para os que, mesmo comportando-se dentro dos cânones socialmente estabelecidos, acabam doentes. Este raciocínio, leva a simplicação do juízo valorativo ao limite, estabelecendo a dualidade bom/mau como critério. Será que o mundo ainda é preto e branco e ainda ninguém me avisou?

Ouvir iPod é mau... e estar a trabalhar durante 10 horas em frente a um computador é bom? Quem vai definir quem são os bons e quem são os maus comportamentos? Divide-se o hospital entre os culpados e os coitadinhos? Entre os que têm dinheiro para pagar e os que ficam à espera de morrer? E cria-se, também, o internamento condicional, para os que aguardam averiguação da bondade da etiologia? E uma junta médica para calcular a percentagem de causas aceitáveis e inaceitáveis e respectiva comparticipação para as doenças de etiologia mista?

Por este andar, não está longe o dia em que veremos o insuficiente renal de causa diabética morrer precocemente porque não tinha como pagar a diálise... E ainda os ouviremos dizer 'que não tivesse comido chocolatinhos'!

3 comentários:

  1. Todos temos direito a receber cuidados de saúde independentemente dos julgamentos de valor que possam ser feitos.

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  2. Infelizmente no outro dia ouvi uma frase ainda mais disparatada de um médico de eleição em Portugal. Dizia que o futuro dos médicos Portugueses era o privado. Quando lhe perguntaram pelo serviço público disse que para isso estariam os emigrantes das ex colónias, e apontou um exemplo, o Reino Unido. No entanto, a ignorância deste médico traiu-o. Neste momento são os emigrantes das ex-colónias Britânicas os que criam serviços médicos privados. Em todo o caso, é para pensar que se um médico de destaque pensa assim está tudo lixado (com um f)...

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"Mi vida en tus manos", um filme de Nuno Beato

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