O Desejo de Valentim

Valentim Loureiro quer ser julgado pela televisão. O Major não tem grande confiança na Justiça. Eu também não. Unidos neste sentimento, o que nos separa é, contudo, essencial. Eu não acredito na justiça que se está a deixar tomar pelo Direito e que definha no detalhe processual. Não acredito naquela Justiça que não se faz porque as escutas não estariam autorizadas. Mesmo que ficasse claro que o clube A foi beneficiado em prejuízo dos clubes B, C e D. Mesmo sabendo que o prejuízo dos clubes B, C e D fez com que o clube B se extinguisse, que o clube C despedisse 30 funcionários e que o clube D tenha 3 meses de salários em atraso.

A mediatização da Justiça é perigosa. Em primeiro, porque a cultura jurídica dos portugueses é pobre e, em muitos casos, inexistente. Em segundo, porque a exacerbação dos sentimentos apaga o necessário distanciamento emocional indispensável à análise jurídica das situações concretas. E, por último, porque essa é uma empreitada levada a cabo, quase sempre, por exímios comunicadores. Valentim Loureiro não está a inventar nada de novo. Já Fátima Felgueiras fizera o mesmo. Já uma cambada de iluminados tentara o mesmo no caso daquele auto-intitulado pai adoptivo que é, afinal, pai afectivo.

Por este andar, não tarda o dia em que os julguemos na Praça Pública. E que voltem as vergastadas!