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A falta de seriedade do Não

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Os defensores do Não lembraram-se de vir dizer que, caso o Não vença, irão propor a despenalização do aborto na Assembleia da República.
Esta posição é de um oportunismo doentio e de uma tremenda falta de respeito pelo eleitorado. Se o Não vencer, teremos mais do mesmo e que ninguém caia na veleidade de alterar a lei nas costas do povo.

Mas a proposta dos auto-denominados defensores da vida é ainda mais ridícula se tivermos em conta que não passa da simples despenalização do aborto clandestino (já liberalizado!). O que se obtém ganhando o SIM é, contudo, bem mais interessante: despenaliza-se o aborto, desde que feito em condições de saúde, continuando a penalizar-se o aborto clandestino que tantas mulheres estropia.

Parece que vale tudo nesta campanha.
A única forma de despenalizar o aborto realizado até às 10 semanas em estabelecimento autorizado de saúde é votar SIM no próximo dia 11.

15 comentários:

  1. curioso é que ainda não respondeste às questões que te levantei.

    além do mais a falta de serieda está no SIM que refere que o aborto é livre por essa europa fora e afinal não é bem assim (http://www.destakdiario.blogspot.com)

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  2. Caro osso,

    Acho curioso citar o destak uma vez que é um dos jornais sobre o qual recai uma acusação na cne por parcialidade neste referendo. Informe-se!

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  3. apesar da suposta parcialidade (que desconheço) apenas sito o destak por ser o jornal que me chega às mãos. e entra-me pelos olhos enquanto ainda estão fechados. considero que tem pouca qualidade mas contudo apenas achei curiosa a notícia pois a europa é constantemente referida pelo sim.

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  4. Caro osso,
    A minha opinião sobre o próximo referendo está bem clara no texto que aqui publiquei com o título "O meu voto".

    Tudo o resto, são para mim, questões marginais e que não estão a votos no dia 11. Não se vota quando começa a vida. Não se vota o que cada um acha do aborto. Não se referenda a consciência.

    Além do que escrevi, apenas escreverei mais um texto no último dia de campanha. "Breve, Leve e Suave" será uma humilde profecia para o dia 11.

    Abraço.

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  5. lamento que tenhas formado uma opinião e que não estejas receptivo às criticas a que essa está sujeita.
    o que se vota no dia 11 é muito mais do que a dignidade da mulher (único argumento válido que o sim consegue utilizar). lamento que não consigas "ver" isso.

    deixo-te mais uma questão:
    "se visses um homem que queria saltar de uma ponte o que farias?"

    NÃO há morte e SIM à vida é o que todos querem no dia 11, agora é uma questão de linguística, uns optam por olhar apenas para o presente sem pensar no futuro outros preocupam-se com um futuro próximo e outros ainda com um longínquo.

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  6. O aborto existe e o voto no não não resolve o que quer que seja. Eu sou a favor da vida, é por isso que defendo o sim; pelo direito à vida das mulheres que são obrigadas a fazer abortos clandestinos em lugares sem dignidade. Só me ocorre pensar que os apoiantes do não suportam o conceito de que a mulher deve morrer porque escolheu cometer esse "crime" (só na consciência de alguns) de realizar um aborto. Por essas ordem de ideias devíamos deixar morrer os doentes de ataques por coágulos ou os diabéticos do tipo II(que tivessem uma dieta mais equilibrada e saudável), as pessoas que cometem uma ilegalidade e que, por exemplo, levam um tiro (que se esvaiam em sangue porque não tinham nada que ser criminosos), pessoas vítimas de doenças profissionais (não tinham nada que escolher aquela profissão) ou outros exemplos que tal. Como já escrevi, parece que as pessoas só têm a vontade de respeitar e salvaguardar a vida intra-uterina. Quando se trata de ajudar os outros e tornar este mundo melhor, não há quem se manifeste. Claro, é mais fácil ditar regras de conduta e moral a uma mulher grávida que pretende abortar porque quem tem que carregar a criança, a sustentar e educar é ela e a família - e nós só temos uma atitude passiva de prepotência -, do que ajudar um sem abrigo em necessidade, porque ai há necessidade de uma atitude mais activa perante o problema. As pessoas não se podem esconder atrás do facilitismo e do cinismo, há que encarar a realidade da forma mais humana e consciente. O amor clandestino não deixa de existir existe por haver uma lei medieval como a que temos. Votar não é optar pela opção mais fácil, é esconder o que se sabe existir e nada fazer para o mudar.

    Uma nota final para a questão da informação. Tenho notado, como aliás já escrevi, que os defensores do não têm optado por passar a ideia que os apoiantes do sim são pessoas mal informadas. Pois bem, eu recomendo que leiam, não o destak, mas documentos verdadeiramente válidos. Façam uma pesquisa no pubmed por "unsafe abortion" e percam algum tempo a ler os artigos que são apresentados. Eu fiz isso mesmo e saliento a seguinte frase: "Access to safe, legal abortion is a fundamental right of women, irrespective of where they live" publicado no artigo "Unsafe abortion: the preventable pandemic." da revista Lancet do passado mês de Novembro.

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  7. Sr António Barbosa,
    quem disse que a mulher deve morrer?
    quem disse que tudo que está no PubMed é de boa qualidade e fidedigno?

    para que entenda a minha posição defendo a despenalização da mulher por considerar que não tem autonomia para decidir sobre a viabilidade do embrião/feto em vários casos (à semelhança do que ocorre com os pais jeovás, quando os filhos necessitam de transfusões). por defender a despenalização da mulher procuro a penalização daqueles que se aproveitam das fraquezas destas (os que proporcioinam os abostos clandestinos).
    ao legalizarmos o aborto até às 10 semanas, não acabamos com o aborto clandestino. além de mais a datação da gravidez não é assim tão linear como se pensa (como também deve ter lido no PubMed).
    porquê depois das 10 semanas de difil datação é crime e antes não? então ao votar sim está a dizer que a mulher que aborta às 10 semanas e 1 dia é a maior criminosa, ao contrário daquela que faz a mesma coisa com 9 semanas e 6 dias?
    porque devemos "apagar" milhares de fetos/embriões para poupar dezenas de mulheres? que vidas são mais "valiosas"?

    não consigo entender onde votar sim é ser pela vida, mas estou disposto a ler e tentar perceber.

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  8. "o que se vota no dia 11 é muito mais do que a dignidade da mulher"

    O que se vota dia 11 é APENAS despenalização do aborto em estabelecimento de saúde legalmente autorizado.

    Parece-me que não é sério que quem aprovou a pergunta venha agora apontar-lhe defeitos.

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  9. O meu voto é um voto sem militância religiosa ou partidária. É um voto sem ideologias. É um voto sem certezas absolutas. Resulta da ponderação dos vários factores, tantas vezes antagónicos, que estão em jogo neste referendo.

    O meu voto pretende responsabilizar as mulheres, dando-lhes a oportunidade de tomar um decisão livre e consciente. Abortar diz, fundamentalmente, respeito à mulher. Porque é a mulher que é acusada por esta lei feita por homens. Porque é a mulher que tem que se sujeitar à gravidez. Porque os homens não têm qualquer dever perante a gravidez. Porque os homens, muitas vezes, não querem saber.

    O meu voto pretende acabar com a clandestinidade. Não vale a pena continuarmos a enfiar a cabeça na areia: quem quer abortar e tem dinheiro vai a Espanha. Quem não tem dinheiro vai à clandestinidade comprar uma complicação que lhe pode amputar definitivamente a capacidade reprodutiva ou mesmo a vida.


    O meu voto é pela coerência. Quando abandonamos as populações à sua sorte, não apostando em verdadeiras políticas de Educação Sexual e Planeamento Familiar, não temos legitimidade para castigar a mulher. E, mesmo que possamos, em consciência, condenar o acto da mulher que abortou, o que é que resolve submeter as mulheres à humilhação pública de um julgamento? Porque é que é entre os apoiantes do Não que encontramos as maiores resistências à implementação da Educação Sexual nas escolas?

    O meu voto pretende criar mais justiça social. Não é raro depararmo-nos com terríveis histórias de vida a que a lei actual é completamente insensível e que o Código Penal continua a penalizar. Devemos respeitar o sofrimento do outro como o sofrimento do outro. Não vale a pena dizermos "o que faríamos se...". É que o "se..." faz toda a diferença.

    O meu voto é pela tolerância. Este é inegavelmente um assunto sensível que divide a sociedade portuguesa. Não há certezas absolutas. Votar SIM abre uma janela de esperança e liberdade para todos. Votar Não é a manutenção da imposição de uma visão que não é nada consensual na sociedade portuguesa.

    Dia 11 de Fevereiro, votarei SIM.
    Apelo a todos os portugueses para que não fiquem em casa.
    E, na dúvida, votem SIM. É o único voto que respeita todos.

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  10. apenas consigo dizer-te que lamento a tua posição e que fujas sistematicamente às questões que te são colocadas e também a algumas que estarão em referendo (se bem que directa e indirectamente) no dia 11.

    PS: fico-me por aqui em relação ao referendo

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  11. "se visses um homem que queria saltar de uma ponte o que farias?"
    Com toda a certeza não o julgaria e condenaria a uma pena entre 1 e 3 anos de prisão.

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  12. Caro osso,

    Vamos ver se nos entendemos. Para si a informação publicada numa revista científica não é fidedigna mas a que é apresentada no destak tem toda a legitimidade científica. Quando pensar em publicar um artigo científico sobre a investigação que faço, hei-de lembrar-me disso e, quem sabe, publicar o meu artigo nesse jornal. Fico com a ideia que não importa a proveniência da informação mas sim se esta vai ou não de encontro aos nossos interesses.

    Quando ao facto de uma mulher morrer, devo dizer que não é caso raro. Não seria a primeira vez que uma mulher morreria por ter realizado um aborto ilegal. Além do perigo de morte, as mulheres sujeitam-se a infecções ou esterilidade. Ora, se o argumento é ser necessário aumentar a taxa de natalidade, não me parece o melhor argumento defender o não.

    E afirma que defende a despenalização e vota não? Acho que aqui alguma coisa entra em curto circuito! Mas terá, certamente, o prazer de me explicar como poderá despenalizar votando não no referendo. Mas será que este referendo se tornou numa adulação das pessoas que fazem aborto e eu não me apercebi? É que na questão de condenarmos o aborto clandestino, a opinião é consensual.

    Gostaria que me explicasse a afirmação propagandista e eleitoralista "ao legalizarmos o aborto até às 10 semanas, não acabamos com o aborto clandestino". Será que alguma mulher portuguesa podendo realizar um aborto no SNS em segurança irá realiza-lo na clandestinidade? Portugal sofre de um problema grave de analfabetismo mas não chegamos a tanto.

    É claro que as ciências biológicas não são exactas, tomara eu que fossem. Compreendo que seja difícil definir dez semanas numa gravidez mas, certamente saberá, que erros grosseiros não serão cometidos. É por isso que a sua afirmação de 10 semanas e um dia ou 9 semanas e 6 dias é desconexa e só fomenta a confusão. Além disso, 10 semanas é mais do que tempo suficiente para que uma mulher se aperceba de que está grávida e tome a atitude responsável de quer ou não uma gravidez.

    Quanto a qual das duas vidas é mais valiosa, só poderia responder a da mãe porque sem a vida da mãe a do embrião não se desenvolve.

    Ser pela vida não é deixar que as pessoas simplesmente nasçam; é ter a atitude responsável de lhes dar a melhor vida que lhes pudermos dar. Votar sim é impedir que morram mulheres somente porque discordam dos valores morais de outras pessoas. Sejamos sinceros, o aborto não deixa de existir por votarmos não. A decisão é saber se queremos salvar a vida da mulher e a sua saúde.

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  13. Não afirmei que o que vem no destaque é sagrado, mas sim que é aquilo que me entra pelos olhos ainda meio ensonados.
    quanto ao PubMed afirmei o seguinte: "quem disse que tudo que está no PubMed é de boa qualidade e fidedigno?", já que há vários artigos que não têm grande credibilidade e outro até erros de investigação, mas ainda bem que não são a maioria. A título de curiosidade, há dias falaram-me de um artigo sobre medicamentos (não sei se estatinas ou anti-hipertensores), publicado no New England Journal of Medicine, no qual o follow-up tinha 6 meses. a revista em questão, geralmente só aceita artigos, desse tipo, com um período de seguimento igual ou superior a 2 anos, devido ao efeito que alguns fármacos têm de apresentar bons resultados no primeiro ano e não os manterem nos seguintes.

    em relação ao aborto serei breve nas minhas respostas.
    Se responder NÃO no referendo (e se o engenheiro sócrates deixar) pode ser discutido o significado do não. a que 3 questões da pergunta se respondeu não?
    Se despenalizar a mulher e punir aqueles que lhe proporcionam o abosto clandestino estamos ou não a combater o aborto clandestino? estamos ou não a despenalizar a mulher? estamos ou não a tentar proteger o feto? estamos ou não a promover a natalidade? estamos ou não a dizer que é necessário mais educação?
    agora se o SIM ganhar onde abortarão aquelas mulheres que tiverem uma gravidez datada em 11 semanas (não digo 10 semanas e 1 dia para não parecer ridículo)? recorrerão a espanha ou à clandestinidade, está claro!
    ser pela vida é deixar que as pessoas nasçam e vivam. ser
    a sua afirmação em que responde que a vida da mãe vale mais porque sem ela o embrião não se desenvolve é no mínimo demagógica para quem defende a vida. só se a mãe morrer é que o embrião não se desenvolve, logo só se mais de metade dos abortos resultarem em morte da mulher é que esta prática compensa em número de vidas.
    consumista e comodista é procurar ter todo o conforto e a "melhor vida".

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  14. António Barbosa,
    já que está a pensar em douturamento depois gostaria de ter acesso à sua tese.
    estou a gostar desta troca de ideias, não é que seja de ideias fixas mas aqui acho que ainda não estão esgotadas todas as hipóteses para avançarmos para uma medida tão drástica. contudo já me estou a desviar do que lhe queria dizer e que se estende ao Pedro Morgado, que é o prazer que estou a ter em debater esta questão com ambos (visto serem pessoas educadas e com boa formação, além da capacidade de formar argumentos estruturalmente coerentes).
    um bem haja.

    Osso.

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  15. Caro osso,

    Em primeiro lugar, terei todo o prazer em lhe enviar a minha tese de doutoramento, quando iniciar e terminar o respectivo. Infelizmente não terei tempo para lhe responder a todas as questões do último comentário, até porque o período de campanha termina dentro de breves momentos e quero respeitar a lei de não me pronunciar a partir do fim do dia de hoje.

    Eu não afirmo que tudo o que está no Pubmed é correcto, nem tão pouco pretendo transmitir a ideia que a ciência (e nomeadamente as ciências da vida) é algo permanente e imutável. Seria bom que assim fosse, mas não é. E acontece que, muitas vezes, é necessário ver a origem da publicação e, principalmente o ano. Acontece que os artigos que citei são recentes. Se invoquei o Pubmed para esta discussão foi pelo simples facto de me parecer que quem defende o "não" quis passar a ideia que quem defende o "sim" são pessoas mal informadas sobre a matéria. Creio que em ambos os lados haverá pessoas mal informadas e essa não é a questão principal. Aliás, nunca teria levantado esta questão neste comment se o destak não tivesse uma acusação de parcialidade nesta campanha.

    Como já tive oportunidade de dizer, a pergunta que nos é colocada é uma pergunta à qual se responde com "sim" ou "não" e nunca com um "talvez". Ou será que quer despenalizar a mulher mantendo a lei actual? Será que querem passar a ideia que o aborto é um crime sem punição? Ou seja, até permitem que as mulheres realizem um aborto mas só se este for clandestino? A mim o que me preocupa, além do aborto clandestino, são as mulheres que, desesperadas, recorrem a métodos absolutamente bárbaros para interromper uma gravidez (como enfiar agulhas na vagina). Eu até admito que consiga combater o aborto clandestino perseguindo quem o executa. Mas conseguirá travar estas práticas de mulheres que não são a que mais recorrer? Não deverá a mulher ter uma gravidez responsável, desejada?

    Se me diz que é necessária mais educação, concordo plenamente. O planeamento familiar deve ser uma prioridade, bem como a educação sexual. Ninguém mais do que eu defende essa posição.

    Se me fala das mulheres que abortam após as 10 semanas, ai terei de ser inflexível. Aí já não serei contra a pena de prisão (mas não chegarei ao extremo de achar que deve ser aplicada só porque foi praticado às 11 semanas). Essa é uma questão que terá de ser estudada. Mas, a partir de 10 semanas terá de haver punição. Porque se possibilitarmos o direito à escolha, temos o dever de exigir que seja feito nos parâmetros estabelecidos. É por isso que digo que é uma liberalização parcial até às 10 semanas. E com essa liberalização parcial não poderia estar mais de acordo.

    O que pretendi dizer quando questionado sobre qual das vidas vale mais, foi que nenhuma vida é gerada sem a mulher, logo a sua decisão deverá ser respeitada.

    E não estou a ser comodista ou consumista dizendo que temos de dar uma vida digna às crianças. Seria comodista ou consumista se achasse que os pais só tivessem a criança se lhe pudessem dar uma PSP pelo natal ou enche-las de prendas caras e exuberantes. O que eu defendo é o direito à dignidade, o direito a ter dinheiro para poder alimentar os filhos condignamente ou oferecer-lhes a vida mais digna (não os conduzindo ao limiar da pobreza).

    Certamente teremos oportunidade de trocar argumentos sobre este e outros temas em outras ocasiões. Que o processo, que agora se inicia, decorra da melhor forma.

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