Capítulo 14: ver como quem sente
Termino este ciclo de sensações com o sentido que lhe deu origem: a visão. Ao longo das últimas semanas, procurei demonstrar que o que vemos não é apenas o que olhamos, mas é também o que ouvimos, cheiramos, provamos ou sentimos.Por outras palavras, os estímulos aos diferentes orgãos sensoriais constroem o nosso olhar sobre a realidade. Neste caso, constroem o imaginário comum da cidade de Braga. Ora, se a memória imagética de Braga é uma construção sensorial, ao privilegiarmos o olhar em detrimento dos outros sentidos, perdemos parte significativa da memória social da cidade.
Este ano, num elogio ao olhar, iniciaram-se as obras de prolongamento do túnel da Avenida da Liberdade. Daqui a oito meses, nascerá uma nova praça e um - suposto - majestoso jardim, mas até lá perdemos um Outono tradicional de castanhas assadas e nuvens brancas e ganhamos, entretanto, uma devastadora sinfonia mecânica.
Vemos a cidade mudar e, com ela, mudamos a forma de a ver. E como a cidade se recria para nós, recriamo-la nós também, vendo-a com os olhos, com os ouvidos, com o nariz, com a boca ou com as mãos. Recriando-a cada vez mais bonita de se sentir, para que seja, efectivamente, bom viver em Braga.
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