O acordo ortográfico foi aprovado no Parlamento, com os votos a favor do Bloco de Esquerda, do PS, do PSD e de um bocadinho do CDS. Pessoalmente, faz-me pouca diferença. Vou continuar a escrever da mesma forma que escrevia. Em primeiro lugar por uma questão de hábito, e em segundo lugar por uma questão de respeito: longe de mim assumir que o leitor brasileiro não saberá que “óptimo” significa “ótimo” e que “passatempo” é mais ou menos o mesmo que “passa-tempo”. Vício meu. Ao contrário das luminárias por detrás do acordo, não tenho por hábito gozar com a cara dos outros.
De resto, as mudanças são praticamente irrelevantes. Não porque sejam pequenas (não são), mas porque ninguém se vai importar muito com elas. A língua é feita por quem com ela trabalha. Editores, jornalistas, escritores, poetas, leitores. É pouco relevante legislar sobre a língua porque em última análise não há forma de garantir o cumprimento da legislação. O que é que se faz a quem escreve fora da norma? É uma boa pergunta.
Mas, a prazo, a questão é outra. O acordo passa a representar a norma oficial. Começa nos gabinetes e propaga-se pelas escolas. As crianças vão aprender os “ótimos” e os “passa-tempos”. Haverá algumas chatices, alguns manuais por reajustar, algumas arestas por limar. Não vai ser um tumulto porque, ao contrário do que alguns pensam, um hífen a menos não impede a comunicação (nem a publicação em solo alheio, fácil de ver). Não vai ser calamitoso. Vai ser só chato. Chatinho.
Mas mesmo as coisas chatinhas podem ser evitadas. Neste caso, é curioso notar que, apesar da óbvia patetice que representa, é bem possível que este acordo se propague. Propaga-se através da política educativa, e apenas porque a política educativa é ditada pelo mesmo órgão que dita a norma oficial da língua: o umbigo do Governo. Os planos educativos e os manuais adoptados têm de ser aprovados por um Governo que tem como prioridade máxima a quantidade de hífens que cada um utiliza enquanto escreve. Prioridades.
Uma política descentralizada permitira evitar isto. Uma política descentralizada permitiria a cada escola utilizar a norma ortográfica que achasse mais conveniente aos seus alunos e não aos umbigos dos burocratas estatais. Permitiria pôr em primeiro lugar aqueles a quem é suposto servir e não aqueles que se servem do poder central para impor modas de circunstância.
O acordo não tem ponta por onde se lhe pegue. Mas as patetices dos Governos são uma constante às quais nos temos de habituar. O segredo não está em eliminar a estupidez alheia (essa é um dado), mas em evitar que ela tenha capacidade de contaminar aqueles que a ela são alheios. Uma política educativa mais livre era um bom passo nesse sentido.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Não concordo com o Acordo, mas também acho que é exagerado dizer que ele resulta do 'umbiguismo' do Governo. A grande responsável por esta situação é, a meu ver, a CPLP. E o desejo de internacionalizar a língua obviamente não se compadece de um hífen a mais ou a menos.
ResponderEliminarPorém, a solução também não é a política descentralizada. Se cada escola ensinasse o que lhe dá na real gana, provavelmente iriam surgir escolas a ensinar crioulo à criançada. Outras ensinavam brasileiro. Mas afinal estamos em Portugal em no Brasil? Quanto a mim, a língua oficial do país deve ser ensinada e difundida de igual modo por todas as escolas. Afinal é língua oficial por alguma razão.
É pena que queiram que deixem os interesses dos brasileiros interferirem com a português que falamos. Mas a verdade é uma: a língua está em constante evolução. Podemos não gostar, mas dantes os advérbios levavam acento grave. E agora já ninguém os escreve desse modo (pelo menos sabendo escrever, claro).
Eu dou os parabéns aos parlamentares portugueses por terem aprovado o acordo, e por terem percebido que a nossa língua será mais útil se for mais extensa.
ResponderEliminarNinguém escreve como fala, a diversidade da fonética (e mesmo de algum léxico) não implica que haja uma unidade ortográfica.
Acho que ficamos todos a ganhar com a universalidade da nossa língua.
Só falta a Galiza aderir ao acordo. Esperemos que seja para breve! ;-)
Desculpem-me o lapso...Queria eu dizer: a diversidade da fonética (e mesmo de algum léxico) não implica que não haja uma unidade ortográfica.
ResponderEliminarCumprimentos
Sou contra o acordo ortográfico por uma razao muito simples: não faz sentido e ponto final! Que não me venham com interesses do "expansionismo" do português, da adaptação ao mundo actual e à economia global e não sei mais o quê. Hei-de continuar a escrever como me ensinaram, com "p" e "h" mudos porque, simplesmente, eles fazem sentido para me expressr.
ResponderEliminarSe para os brasileiros não fazem, tudo bem, é lá com eles! Agora, não nos venham obrigar a escrever da mesma forma que eles o fazem.
O Português é o Português de Portugal; respeito que tenha variações fonéticas, gráficas e outras consoante o país em que também se fale o Português porque isso "nada" mais é que fruto de uma evolução e do processo de aculturação.
Sem querer menosprezar todo o valor de uma língua para um país, acho incrível que que se "perca" tanto tempo e esforços com esta questão que, como já alguém apelidou, é mais uma "birra governamental", tão semelhante ao Tratado de Lisboa no modo como foi conduzido, e que no fim de tudo se traduz numa grande montanha a parir um rato... ou um ratinho!!
Acredito que outras medidas, que não este pseudo-acordo, seriam bem mais úteis à difusão e enaltecimento da Língua Portuguesa. Um dia (espero), lá chegaremos...
Menosprezar a importância que tem o português como língua falada por mais de 250 milhões de pessoas em todo o mundo, ou querer-la reduzir a relevância do Servo-croata, ou do Checo, por uma teimosia "purista", parece-me um absurdo incompreensível!
ResponderEliminarA língua portuguesa é um património (que não é só nosso..felizmente!), mas é sobretudo um meio de comunicação. Condicionar essa comunicação por ninharias de um nacionalismo bacoco, não faz sentido.
bem, mas se cada escola ensinar o português com a grafia que lhe convier, vamos ter exames nacionais com variantes como:
ResponderEliminarbinti
binte
vinte
vint'
assim só pela rama.
continuo sem encontrar um único argumento linguístico que me liga que o acordo é mau. só vejo argumentos nacionalistó-patrioteiros que em nada me fazem mudar a opinião.
se é para falar de matemática, temos que usar argumentos matemáticos. não vamos dizer que dois e dois são quatro porque é mais bonito e concorda com a nossa alma lusa.
se assim é, ainda não percebi porque é que não vejo nenhum argumento que diga que o acordo é mau por (inserir explicação linguística aqui).
Este acordo é o aborto da Língua Portuguesa,feito por bastardos.
ResponderEliminarVossas Excelências concederão que vos recorde que houve um tempo em que os lyceus ensinavam theatro e pharmácia (parece que no Brasil ainda é lyceu). Podemos ter a ideia que a língua é imutável, mas na realidade ela está sempre a mudar. Não conheço o acordo, mas não o critico por mudar. A verdade é que o Português de Portugal é falado por 10 a 15 milhões. O Português Universal será uma dos idiomas mais falados. Na verdade, com a velocidade das actuais mudanças, o Português poderia em menos de 100 anos divergir em diversos idiomas. Pelo menos assim existe uma norma que integra as diversidades.
ResponderEliminar