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Das Virtudes de Bolonha

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Luís Aguiar Conraria destaca que «aqui na Universidade do Minho, o processo de Bolonha não foi sinónimo de facilitismo, nem de irresponsabilidade, ou de preguiça. Pelo contrário. Num inquérito aos negócios da noite, bares e discotecas, os jornalistas descobriram que “os bares estão vazios. Apesar da música e das luzes continuarem a convidar à visita, em alguns dos bares mais conhecidos da comunidade académica, a verdade é que cada vez menos gente passa pela porta de entrada.” Diz o gerente do Face Café “fizeram bem em adoptar o modelo de Bolonha mas ele está mal estruturado, porque é em demasia. Por aquilo que eu tenho conhecimento, há cursos que numa semana têm uma data de trabalhos, frequências e exames para fazer. É tudo muito esgotante”. Acrescenta ainda que viu tal estado na noite. Nem mesmo a quarta-feira, dia académico por excelência, se salva deste cenário de crise.»

2 comentários:

  1. Será que assim é? Pelo que me apercebo o volume de trabalhos não é assim tanto porque, quer caloiros, quer os pseudo "doutores" continuam a ter tempo para andar na praxe. Isto em pleno Dezembro, época supostamente intensa em trabalhos e na eminência das Frequências.
    Mas se a exigência de empenho aos alunos aumentou com o processo de Bolonha não me parece nada mal, pode ser que assim se consciencializem que estão a ser preparados para um mercado de trabalho que não se compadece com a mediocridade. E não falo de médias, falo de capacidade e vontade de trabalho, de sacrificio e de ir muito além daquilo que pensamos ser as expectativas.
    Trabalho na área em que me formei, tive uma excelente oportunidade após o estágio, mas é lamentável a atitude com que vejo grande parte dos estagiários chegar às entidades que os recebem: não estão minimamente preparados para trabalhar, entendem o estágio apenas como mais uma disciplina para acabar e parecem quase conformados com o desemprego que vai aparecendo no horizonte.
    É óbvio que com esta postura as oportunidades não aparecem.
    Por isso, seria bom que não encarassem os anos que dedicam a um curso superior apenas como os mais oportunos para a diversão e para o desprendimento do controlo paterno. Se Bolonha implica trabalho, entrega e maior responsabilização, óptimo, não é mais do que aquilo que os espera num futuro muito próximo.

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  2. Cada curso tem histórias para contar sobre Bolonha...e duvido muito que um único tenha histórias boas.

    Não se trata de facilitismo para os alunos ou irresponsabilidade para os alunos.

    No meu curso, particularmente, facilitismo não tem existido e a irresponsabilidade que tem existido está toda do lado dos docentes. Incompetência na gestão dos cursos. Incompetência na definição dos ciclos. Incompetência na definição dos métodos de avaliação.

    Se a incompetência na gestão do curso ainda podem haver razões para tal - já que não são gestores. A incompetência na definição dos ciclos é incompreensível. Claro quem em Direito se está dependente do que o Ministério, Ordem e Magistratura venham a dizer (e muito devagar têm dito), mas também é verdade que o "orgulho" de ser a 1ª pública a ter bolonha, ao fim e ao cabo, é pura patetice e pura propaganda (que, pela média de ingresso, parece que funcionou). Claro que para além de não se saber se é 4+1 ou 4+2 e por sermos a 1º (1ºs carago!) também somos a única pública de Direito que vai manter, como regra, cadeiras anuais.

    Quanto à incompetência/irresponsabilidade nos métodos de avaliação, acho que basta dizer que no último dia 27 tive um testezito a uma cadeira e na véspera tinha sido alterado, pela 5ª vez, o regime de avaliação. 5ª vez, só a essa cadeira, porque depois cada uma tem as suas particularidades (e claro, cada vez que é alterado, a aula é substituida por uma sessão de esclarecimentos, sempre produtiva). Contas por alto, já estive nuns 20 regimes de avaliação, só nestes 4 meses. Brilhante, mesmo.

    E quanto à irresponsabilidade e preguiça, dos docentes, em termos genéricos: eles são contra, insistem que "os alunos é que queriam Bolonha!" e como muitos acumulam a docência com outros cargos (ou estão entretidos com teses), estão mais interessados em não fazer nada. Exemplo disso, era a ideia que um deles, doutorado até, teve: de fazer cerca de 150 (nº de inscritos) avaliações orais de 10 minutos, através de mini apresentações, durante as aulas. 150, durante as aulas. Creio que não é preciso um desenho para a preguiça saltar à vista. E depois há os que procuram afastar o maior nº de alunos, o mais cedo possível, para não terem de corrigir 4 * 200 mini-testes, com testes que seriam acessíveis caso o tempo limite fosse realista. Enfim, existe muita má vontade. Muita má fé. E curiosamente é algo que não hesitam em declarar...
    Também a título de exemplo, no ano lectivo de 2006/2007, foi instituído no 1º ano de Direito, a título experimental, um regime de avaliação contínua. A docente de uma das cadeiras cometeu a proeza de só conseguir "levar" 4 alunos (entram 130, mais os que repetem) até ao 4º e último "mini"-teste. Burros não deveriam ser os alunos, já que a outras cadeiras correu razoavelmente bem...

    A isto e relacionado com a total incompetência, acresce a manifesta falta de docentes, quer doutorados (para dar os futuros mestrados), quer de docentes para dar turnos alternativos. E note-se que Direito não é um cursozito com 30 ou 40 alunos por ano/aula. Há aulas que chegam a ter os tais 190 do A4... e em certas cadeiras, se todos os inscritos comparecessem nas aulas, nem o A1 chegava...

    Mas uma coisa é certa, nunca tive docentes tão maus como tenho este ano. Resultado da corrida aos doutoramentos (uns 10 docentes andam nisso) para que consigam dar resposta aos mestrados. Mais uma vez, incompetência de quem gere. Quer pela pura gestão, ao não contratar docentes (competentes), quer por não facultar a formação pedagógica apropriada a recém licenciados (ou mesmo a outros não tão recém).

    Ao fim e ao cabo, para os alunos a única coisa que mudou, foi uma carga de trabalho mais distribuída durante o ano. Apenas isso, porque, em Direito, já trataram de mexer os cordelinhos para não haver aulas em Janeiro (sendo que elas, supostamente, acabam por volta de dia 18). O RIAPA também não concebe a possibilidade de exames orais, quando se trata de avaliação continua (com 8 como nota final) e qualquer pessoa que tenha algum conhecimento da realidade de Direito sabe que é "norma" dar 8s, como nota final, como "segurança", para obrigar os alunos a irem à dita oral para passarem. Quem diz 8s, diz 10, 11, 12, 13 ou whatever, a alunos que merecem mais, mas a única forma de subir a nota é através de orais. Enfim, é a realidade e a norma, em Direito.

    Claro que nisto tem tanto culpa a UM, a AAUM, o Governo e a Escola. A UM e a AAUM pois, pelos vistos, pensam que Direito é um curso como um qualquer ligado às ciências, onde os resultados das avaliações são objectivos, ou a outras letras, onde se pode andar a fazer trabalhos e a conhecer alunos mais pessoalmente (sendo que "mais pessoalmente" é uma redondância, já quem em Direito *não* se conhecem alunos). Do Governo porque em 1º lugar não reconheceu a Direito um estatuto especial como a Medicina ou Arquitectura, mas mais tarde veio a legitimar a "anormalidade" de um 4+2 (ou 4+1,5). Da Escola porque não soube perceber que as mudanças ao RIAPA, que já em si revelavam ser difíceis de adaptar a Direito, preferiu manter um sistema de cadeiras anuais, que são praticamente incompatíveis com Bolonha, tal como esta é entendida na Uminho. Quer com os regimes de avaliação, quer com calendários, quer com fases de exames... enfim.

    Pessoalmente, com meio ano de Bolonha em pleno funcionamento: não sei como vai ser o 2º ciclo (absolutamente nada definido, nem esboçado). Não sei se me vai ser proporcionada mobilidade com outras universidades, no 2º ciclo. Não sei, ao certo, se Ordem de Advogados vai exigir Mestrado (tese) ou frequência a 10 semestres (ou Mestrado sem tese - o que quer que isso seja). Não sei o que o CEJ (Magistratura) vai exigir. Não sei se o PS e PSD se vão entender quanto à reforma de todas a ordens, que vai eliminar os exames de acesso, em todas as ordens (o não entendimento é apenas relativo às ordens afectadas pela nova lei). Não sei se me vai ser permitido efectuar créditos "adiantados" de Mestrado, caso tenha menos 60 créditos para terminar a licenciatura - como teria direito, se o clássico 5º ano estivesse em vigor (hello legitimas expectativas).

    Se o anónimo se sentia preparado para o mundo de trabalho quando daqui saiu... fico feliz por ele, pois terá tido sorte.

    Mas resumindo: o sucesso de Bolonha não tem a ver com os alunos. Esse fazem o que tiverem de fazer. A incompetência, irresponsabilidade e preguiça não está do lado dos alunos, mais do que estava antes, pelo menos. Bolonha só trouxe à tona e exacerbou os defeitos dos docentes, defeitos já existentes.

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