S. Leonardo da Galafura
À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.
Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!
Poema de Miguel Torga
Fotografia de João Nuno
O Torga-poeta, de facto, é uma desgraça.
ResponderEliminarCom vista para o Ponto Kilométrico 115,2 da Linha do Douro.
ResponderEliminarO rio Douro, ai o rio Douro...
Dario Silva
Grande Torga !
ResponderEliminarNão sei se foi mais poeta do que médico que era a sua profissão.
Dele fica-nos um humanista serrano onde enaltece o trabalho humano como a única dignificação da condição humana.
PS, Quem nunca leu Torga a sério deveria abster-se de comentar.