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Setenta e um anos na véspera de não partir nunca

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Foi a 30 de Novembro de 1935 que secou a maior torrente criativa da língua portuguesa.
Ninguém como ele foi tão longe no uso da língua para lhe dar nova vida. Ninguém como ele foi tão sublime na criação de um imaginário aparatoso em que nos perdemos sem perceber, afinal, onde acaba o poeta e começa o Pessoa. Ninguém como ele conseguiu dar tantas formas diferentes e novas à palavra. Ninguém como ele esteve tão longe e tão perto da "véspera de não partir nunca".

«Na véspera de não partir nunca
Ao menos não há que arrumar malas
nem que fazer planos em papel,
com acompanhamento involuntário de esquecimentos,
para o partir ainda livre do dia seguinte.
Não há que fazer nada
na véspera de não partir nunca.
Grande tranquilidade [...]
Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas!
Que prazer olhar para as malas fitando como para o nada!
Dormita, alma, dormita!
Aproveita, dormita!
Dormita!
É pouco o tempo que tens! Dormita!
É a véspera de não partir nunca!»


Álvaro de Campos

1 comentário:

  1. Eu tb gosto muito de Fernando Pessoa! Mais uma coisa que temos em comum!...para além d detestarmos o Carvalhal! he!

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