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Não Me Comovo

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The Burning Times - an engraving by Jan Luyken of women being burned as witches or heretics
© rosewithoutathorn8

A história de Galileu é uma exemplar metáfora do modus operandi da Igreja Católica Apostólica Romana. Sabendo-se que a busca da salvação é um produto que só vende quando há sentimento de culpa é necessário investir forte na bolsa de valores do pecado. Neste capítulo, o contrariar da natureza humana é o viveiro mais profícuo. Pecas se vives amantizado e pecas se fornicas sem procriar. Pecas se desmanchares para não sofrer e pecas se viveres como sodomita. Pecas se racionares mais que o devido e pecas se investigares para lá do permitido. Pecas se não admirares a beleza da criação e pecas se te enfastiares com a verborreia doutrinária. Tudo é pretexto para exponenciar a necessidade da conversão.

Também Galileu pecou por mostrar aos homens que a verdade era diferente do que a Igreja contava e, por causa disso, foi perseguido e obrigado a converter-se ao obscurantismo dogmático. Depois de séculos de silêncio sobre a perseguição e condenação daquele cientista, o Vaticano tem repetido os elogios e pedidos de perdão pela sua envergonhante conduta. Mas, sabendo que todos os pedidos de desculpa são inúteis quando desacompanhados da necessária mudança de atitude, não me comovo com os recentes elogios do Papa Bento XVI aos trabalhos desenvolvidos pelo cientista Galileu.

A atitude da Igreja Católica, pretensamente transbordante da mais genuína humildade, esvazia-se quando se conhecem os contornos da nova inquisição contra a ciência, os ateus, os homossexuais ou as liberdades individuais de cada cidadão. Não esqueçamos que, enquanto o Vaticano se redime pela censura dos esforços científicos de Galileu, continua a promover todos os esforços para obstaculizar o desenvolvimento científico que salva vidas, evangelizando contra a selecção de embriões ou a clonagem. Mas, tal como sucedeu com a verdade de Galileu, virá o dia em que se tornará inevitável elogiar o trabalho dos ímpios cientistas que hoje, por via da descoberta e aplicação dessas técnicas, vão tornando mais salutar e aprazível a vida de muitos milhões de pessoas.

11 comentários:

  1. Pedro Morgado,

    Faz sentido, depois de mortos os opositores já não fazem mal a ninguém. O Vaticano mostra uma certa mestria política (e isso eles têm em abundância) ao recrutar a sua memória para criar na mente das pessoas a ideia de uma pseudo mudança dentro da Igreja e na sua forma de actuação. Teatro popular no seu melhor.

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  2. Caro Amigo, este excurso me parece bastante simplista. Dentro dos humanos sempre houve uma dualidade: legislar e viver segundo o espírito divo. Dentro da Igreja há que prescreva e legisle e há quem faça da própria vida uma oferta amorosa pela liberdade e pela plenitude de vida em todos.

    Os acabrunhados e os tristes, os castrantes e os sádicos nada têm a ver com a Alegria que veio beijar-nos do Alto.

    Nem tudo é lixo humano. Nem tudo é pechisbeque.

    Abraço
    joshua

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  3. Para toda a comunidade, os nossos sinceros votos de um Santo Natal

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  4. vejam este texto (chamar a isto texto é um elogio) escrito e assinado por um homem santo da nossa igreja....
    alguem me explica o que anda no mundo a fazer a igreja????

    vejam e comentem o lado B da igreja:)

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  5. desculpem....nao enviei o texto..aqui vai...

    http://padremagalhaes.blogs.sapo.pt/

    texto onde podemos concluir que um "bebado" e um "drogado" é pecado para a igreja....

    vejam este texto (chamar a isto texto é um elogio) escrito e assinado por um homem santo da nossa igreja....
    alguem me explica o que anda no mundo a fazer a igreja????

    vejam e comentem o lado B da igreja:)

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  6. Caro anónimo (porquê anónimo?)(00:30),

    'O que anda no mundo a fazer a Igreja?'

    Não consegue mesmo ver nada de positivo na acção dos cristãos católicos(que são a Igreja Católica)?

    E o que pensa das pessoas que, não sendo católicas nem mesmo crentes, defendem em muitos aspectos, as mesmas posições da Igreja Católica?

    E o que pensa dos católicos que estão na linha da frente na investigação científica sem que isso levante qualquer problema religioso?

    Boas Festas e Bom Ano Novo.

    Alfredo Dinis

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  7. Caro Pedro Morgado,
    Como sabe, a Inquisição perseguiu, torturou e matou ao longo dos séculos milhares e milhares de pessoas. Não acha que apelidar de "nova inquisição" o facto de a Igreja Católica Romana ter posições diferentes das suas poderá ser ofensivo para a memória de todos aqueles que, efectivamente, foram vítimas da Inquisição?

    Caro "anônimo",
    Felizmente vivemos num país livre. Aquilo que a Igreja considera, ou não, pecado, é um problema que afecta apenas os Católicos. Não sendo o seu caso (presumo), para quê incomodar-se tanto? Vá lá, deixe o rancor de lado... até porque é véspera de Natal...

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  8. A promoção da discriminação também é uma forma de inquisição. O facto da sociedade hoje estar mais vigilante impede a Igreja de utilizar os métodos de outros tempos.

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  9. Não há muitos dias foram enforcados dois adolescentes pelo crime de “práticas sodomitas”. Tal como os habitantes de Sodoma, ficaram assim condenados ao flagelo eterno.
    Estas práticas “judiciais” são as mais visíveis, mas não são as únicas. Existem práticas diárias de condenação arbitrária dos homossexuais. E as coisas não têm melhorado por aí além.
    É por isso que a ONU resolveu fazer um documento que descriminaliza a homossexualidade, tendo levado a sua aprovação em sede própria. A ICAR, escudada em imbróglios éticos e pseudo-jurídicos, não o aprovou.
    Aparentemente, a redacção deste documento extravasava as expectativas da Santa Madre Igreja.
    Ao fazer isto, em conjunto com os estados mais retrógrados do mundo, a Santa Sé afirma-se como um dos mandantes do extermínio dos homossexuais.
    O cardeal B16 demonstra uma vez mais o que lhe vai nos genes e acrescenta mais um contraponto à governação católica anterior, apostando na inflexibilidade dos costumes e na herança de concílios do século III.
    A ICAR é uma das responsáveis, a partir de agora – se o não era declaradamente até agora – pela continuidade das humilhações, das prisões, das torturas, das execuções. Porque nem tudo se traduz numa “mera” falta de direitos de casal e de reconhecimento social. Existem formas muito mais violentas de perseguição.
    Mas nada disto é novo. Também já tinha fechado os olhos às mesmas práticas levadas a cabo pelos Nazis durante a II Grande Guerra. Assim como tem fechado os olhos ao que se passa em todos os locais do mundo que não entrem em confronto directo com o Império ou sejam fortes demais para confrontar, e podem assim seguir caminho nas constantes violações dos direitos básicos do ser humano.

    A suma hipocrisia da Igreja Católica – e de outras confissões – continuará enquanto os sacerdotes não se puderem realizar de forma livre, aberta e socialmente saudável. Um dia que o possam, poderá ser que exista muita batina a sair do armário e a deixar manhãs submersas para trás.
    Entretanto, bem vindos à fabulosa era de Aquário, ao século XXI, ao Milénio. Mas fiquem sentados. Ainda estamos a ver o resumo dos capítulos anteriores.

    (ah... e isto é a parte final de um ppst publicado lá no estaminé...)

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  10. Ao olhar para este recuo em relação a Galilei tenho quase a certeza de que a Igreja Católica daqui a 350 anos vai casar homossexuais.

    Existe o jet lag para uns e o intelectual lag para outros.
    Ou então é o reality lag mesmo.

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