Avenida Central
| Partilhar
Na Esquina da Avenida

O Capitalismo

Dizem que o capitalismo na sua fase actual – o “fundamentalismo do mercado neoliberal”, para usar as palavras de um prémio Nobel da Economia – é um sistema surpreendente. E, ao que parece, é. Às vezes, é tão surpreendente que é difícil compreender como é que, ao certo, funciona. Quem, por exemplo, for hoje ao site do Correio da Manhã ficará a saber que os portugueses fogem das apólices de Ronaldo, garantindo o jornal que os nossos compatriotas começaram a resgatar os seguros e a transferir os planos de poupança da patrocinadora do clube do jogador. Quem prosseguir a leitura da homepage encontrará, quase imediatamente a seguir, outra notícia que diz, entre aspas, que “o Ronaldo não é viciado em sexo”. Se isto tudo anda de tal modo ligado que, como se ouve tantas vezes dizer, um simples bater das asas de uma borboleta num canto do planeta é capaz de provocar uma catástrofe no canto oposto, deve, com certeza, haver alguma relação entre as duas notícias envolvendo Ronaldo, mas o jornal não a estabelece.

As relações entre as coisas no universo do capital não são, aliás, fáceis de entender. Quando os que mandam no capitalismo têm lucros, a maior parte da gente perde; quando os que nele mandam têm prejuízos, a maioria das pessoas perde também. Havendo uns que podem ter lucros ou prejuízos – e só Deus saberá o quanto uns quantos não lucram com os prejuízos –, não se percebe por que, nos dois casos, o maior número subsiste prejudicado – e só Deus sabe o quanto se pode ser prejudicado ainda que se tenha casinha própria e um carrinho topo de gama.

Estranho é ainda verificar que, quando os que têm lucros têm lucros, o estado não pode lucrar também; mas, quando os que têm lucros têm prejuízos, o estado é imediatamente instado a pagar os prejuízos. Em qualquer caso, o que vale é que há sempre alguém capaz de nos explicar por que é que a prosperidade de poucos e a adversidade de muitos é sempre o melhor para todos.

2 comentários:

  1. Eduardo:

    Parece-me triste que, na esquina desta avenida, existam tantas ideias básicas e pouco fundamentadas.
    No passado, os "homens antigos" olhavam para os fenómenos naturais e lançavam palpites para as suas causas. Depois, surgiu o método científico e a nossa compreensão do mundo aumentou consideravelmente. Curiosamente, as opiniões sobre assuntos económicos continuam a reger-se pelo antigo método: o "é capaz de ser assim".

    Cumprimentos.

    ResponderEliminar
  2. Grande capacidade dialética, Eduardo.Fulgurante!Está tudo dito.Só faltou dizer que o capitalismo se renova a si próprio permanentemente, com processos ortodoxos e clássicos ou, então pragmáticamente socializantes (ou nacionalizantes)...De facto, o capitalismo tem reservas ideológicas inesgotáveis...
    Quem havia de dizer!Aliás também se dizia, nunca soube se foi verdade ou não, que um dia o Santos da Cunha, pragmático que era, terá dito " ou é assim ou, para sê-lo, vamos mesmo para o comunismo e pronto, temos é que conseguir o desiderato a que nos propomos..." .

    ResponderEliminar

Antes de comentar leia sobre a nossa Política de Comentários.

"Mi vida en tus manos", um filme de Nuno Beato

Pesquisar no Avenida Central




Subscreva os Nossos Conteúdos
por Correio Electrónico


Contadores