Ricardo Vasconcelos, o chefe de redacção do Correio do Minho, ficou horrorizado com a programação erótica que a SIC escolheu para a noite de ano novo. O jornalista confessa que «o trabalho que a Miss [Liliana Queirós] fez para a Playboy há cerca de um ano» foi «algo nunca antes visto», chegando mesmo a comparar a blasfémia sensual da SIC às bombas que Israel lançou sobre os Palestinianos: «E, tal como em Gaza, valeu quase tudo, mesmo transmitir um programa erótico pouco depois da meia-noite.»
A resposta ao azedume moralizador de Ricardo Vasconcelos chegou, imagine-se, pelo Diário do Minho, o jornal da Diocese. «Suprema ironia, na capa da edição da tomada de posição obtusa, o jornal que diariamente publicita prostituição ostentava uma foto de página inteira de uma modelo completamente nua, ao melhor estilo das suas edições diárias», assim escreveu o sempre acutilante Joaquim Martins Fernandes.
À missiva de Martins Fernandes, respondeu Vasconcelos com uma homilia digna de calma leitura e ainda mais lenta digestão. Confessando-se ex-seminarista, deixa escapar que os valores que defende para a sua vida podem não corresponder aos que o Correio do Minho apresenta na linha editorial da qual ele mesmo, o próprio, é chefe de redacção. A pérola, contudo, estava guardada para o remate final: «não sendo eu ninguém para julgar os comportamentos dos outros, a justiça de Deus será feita.» Resta saber como...
O assunto assim contado parece digno de filme de comédia, mas o retrato é trágico e fiel da beatice da cidade. Aos que não salivam nem querem deixar salivar com a sensualidade de Liliana Queirós, convirá lembrar as sábias palavras de Sophia de Mello Breyner Andressen:
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas.