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Livre de Crucifixos

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Crucifix at sunset
© poorleno123
There was uproar in Italy today over a ruling by the European court of human rights that the crucifixes that hang in most Italian classrooms are a violation of religious and educational freedoms.
The seven judges, whose decision could prompt a Europe-wide review of the use of religious symbols on public premises, said state schools had to "observe confessional neutrality". [Guardian] no [El País] e no [i]


A notícia, aparentemente, está a ser ignorada ou a passar muito despercebida nos media portugueses. Trata-se de uma decisão [completa, em francês] unânime entre sete juízes que afecta de forma directa os italianos, mas, como adianta o Guardian, poderá ter um impacto a nível europeu e, consequentemente, merece um olhar atento também da nossa parte.

De facto, por toda a Europa têm surgido várias questões relacionadas com a liberdade religiosa e só não se levantarão (muitas) mais em Portugal, por ser um país, também, como a Itália, predominantemente católico. Em Itália até foi uma filandesa, de nome Soile Lautsi, que fez questão de levar o litígio às últimas instâncias e consequências.

Seguramente, esta decisão irá afectar determinamente o modo como os Estados vão passar a tratar os símbolos religiosos em instalações que a si pertençam. Mas, partindo desta decisão, poder-se-á chegar mais longe, a médio prazo, no que toca à questão da liberdade religiosa. A maioria dos Estados está longe de ter modelos de liberdade religiosa maturados, funcionais e sobretudo isentos.

Têm evoluído algo discretamente, mas a sua existência, como em Portugal, assume contornos tão ténues que chegam a roçar o mero simbolismo. Ou, por outro lado, até poderia bem bastar, mas quando, de variadas formas, o Estado continua a zelar e proteger uma religião, como se fosse uma religião não-oficial, qualquer consagração de liberdade religiosa roça o simbolismo.

A ler, via Pedro Magalhães: nos EUA, "Crucifixes in the Classroom"; na Alemanha, "Classroom Crucifix Case"

6 comentários:

  1. Não querendo muito saber se é uma cruz ou uma estrela de david, ou outra coisa qualquer:

    há uma coisa que os europeus não podem esconder; há de facto um cunho cultural cristão em todos os países europeus, da mesma forma que esse cunho nos foi dado por Grécia e Roma. Vamos agora fingir que não existiu? Por muito laico que o estado seja, ou por muito ateu que cada indivíduo seja, há valores intrínsecos à nossa cultura que advêm directamente dessa presença social e política do cristianismo.

    Em Portugal, todo o conceito de nação foi fundado numa base religiosa: o que nos distinguia de nuestros hermanos era um missão religiosa. O espírito santo andava por aí a proteger os portugueses. O mito da fundação surge com uma suposta aparição de jc ao afonso.

    vamos fingir que nada disso aconteceu?

    não quero com isto dizer que concordo com crucifixos nas escolas e hospitais... mas o facto de lá estarem nunca me causou comichão.

    Em relação ao estado laico, enquanto celebrarmos o natal e mais uns quantos feriados, estaremos a adoptar o laicismo? e olha que não me importo muito com o feriado a 25. Se me tirassem, ia ser uma chatice.

    E por último, eu sou da opinião que um verdadeiro ateu quer lá saber se há lá uma cruz. não é o facto de ela lá estar que vai alterar a descrença... para outras religiões, também não é o facto de abolir os símbolos religiosos que vai alterar qualquer sentimento de rejeição/xenofobia.

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  2. As pessoas um pouco mais velhas também terão sido educadas em salas de aula que, não só tinham crucifixos, como ainda tinham a fotografia do "Sr. Presidente do Conselho", ou coisa que o valha.

    A presença dos crucifixos até pode ser, hoje, meramente simbólica. Aliás, nem é preciso um crucifixo para se pregar numa sala de aula.

    A questão da laicidade é muitas vezes entendida como uma atitude anti-religião, com o ateísmo. Não é assim. Um estado laico é um que se alheia de tudo isso. O ateísmo implica uma tomada de posição, oficial e a laicidade é nem implica isso. A laicidade é a atitude mais aberta e tolerante que um Estado pode ter em relação à religião.

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  3. ainda agora discutia na net acerca do meu próprio comentário: acho que dá a entender uma posição "contra" o retirar os crucifixos.

    não estou, de forma alguma, contra. acho apenas que para se atingir a laicidade "total", há passos mais importantes e mais urgentes. dentro da laicidade do estado, presumo ser mais urgente aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo; a situação actual demonstra que ainda legislamos a olhar para a bíblia...

    não me incomoda. nem me incomoda que tirem as quinas da bandeira (confesso que não me apetece chamar época festiva ao natal)

    mas, tal como os religiosos, acho que damos demasiada atenção ao símbolo. há coisas mais importantes.

    resumindo, não estando contra a remoção das cruzes, acho que dever-se-ia começar de forma diferente, com um plano delineado e não com medidas avulsas para fingir que se muda alguma coisa.

    [já agora, acho que foi
    "vamos fingir que nada disso aconteceu? "
    que alterou o sentido do comentário.]

    abraços e beijinhos.

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  4. "Em relação ao estado laico, enquanto celebrarmos o natal e mais uns quantos feriados, estaremos a adoptar o laicismo?"

    Celebramos quem?
    Em França, e há já várias décadas, a questão se clarificou dada a natureza verdadeiramente multi-étnica e multicultural da sociedade francesa.
    Não, não estou a falar do vestuário, estou a falar de salas de aulas que alberga(va)m alunos de inúmeras proveniências, muitos deles do Portugal Profundo.

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  5. dário, vais trabalhar nos feriados? eu por acaso até vou...

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