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Capítulo 17: obama, só mais meia dúzia de linhas

1. São muitos os teóricos que afirmam o presente como a pós-modernidade; uma época que rompe com um passado recente caracterizado - entre muitos outros aspectos - pelos grandes discursos.

A eleição de Obama, porém, é a afirmação inequívoca de que os grandes discursos não acabaram. Se com a popularização do lazer, a política e o discurso político passaram para segundo plano, as novas formas de comunicação permitiram tornar os discursos políticos numa nova forma de lazer.

Não restam dúvidas da incrível capacidade retórica de Barack Obama, mas se ele não tivesse recorrido aos canais não convencionais de comunicação política, não teria, sequer, vencido as primárias.

Com o recurso a ferramentas web populares como o Facebook ou o Youtube, Obama chegou perto de um público-alvo que se veio a revelar um dos mais importantes para a sua eleição: os jovens norte-americanos. Através da Internet, Obama conseguiu reunir milhares - talvez milhões - de entusiastas dispostos a trabalhar gratuitamente para um sonho que lhes era comum: "mudar o mundo".

2. Outra questão importante é a diferença entre o pré e o pós eleição. Antes da eleição, o mundo olhava os americanos como o povo mais estúpido do mundo por ter eleito, por duas vezes consecutivas, George W. Bush. Agora, após a eleição, esse mesmo mundo olha os mesmos americanos como o exemplo máximo da civilidade por ter escolhido um negro como Presidente.

Li, um pouco por todo o lado, que a eleição de um negro representava a "reconciliação entre duas américas divididas". A páginas tantas, falava-se mais frequentemente do tom de pele de Obama do que do seu papel como futuro Presidente dos Estados Unidos da América.

Obama representa, de facto, uma vitória contra o preconceito, mas demonstra também a justeza da igualdade de oportunidades. Porque nunca é demais lembrar que Obama, de negro, pouco tem; "meia-pele", quiçá.

Para além da pele, Obama pouco terá em comum com a maioria dos negros que representam uma importante minoria étnica nos Estados Unidos. Foi criado pela mãe, branca, e pelos avós maternos, brancos, e estudou em algumas das melhores escolas e numa das melhores universidades americanas.

Teve oportunidades e condições de vida que poucos negros têm, por isso a vitória de Obama não é tanto uma reconciliação entre duas américas, mas será, porventura, um cessar de fogo e uma boa desculpa para quebrar as barreiras étnicas num país que representa o melting pot.
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P.S.: A Avenida Ideal desta semana é publicada, excepcionalmente, ao Sábado por causa da celebração do segundo aniversário do blogue. A partir da próxima semana, voltará de novo a ocupar cinco minutos das vossas Sextas-feiras.

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