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A «Justiça de Torres Novas»

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«Na minha qualidade de juiz social do Tribunal de Menores de Lisboa, já com catorze anos de experiência, não posso calar a minha revolta pela decisão tomada no Tribunal de Torres Novas. O pai adoptivo de uma criança foi condenado por sequestro da mesma quando afinal tem tomado conta dela desde os três meses de idade, quando a mãe biológica lha entregou devido à sua incapacidade para cuidar da menina com um mínimo de condições de conforto. Desempregada e abandonada pelo pai biológico da criança, a mãe brasileira tomou a melhor decisão em favor da vida futura da criança. Entregou-a de boa-fé a quem a recebeu de boa-fé e lhe tem dado todo o carinho ao longo de cinco anos. O superior interesse da criança é que deve sempre pautar todas as decisões do Tribunal, seja ele de Torres Novas ou de outra qualquer comarca. Condenar por sequestro o pai adoptivo que sempre tratou bem a criança desde os três meses de idade não é – seguramente – defender o superior interesse da criança. Se fosse julgado nos juízos onde trabalho, este caso nunca teria este desfecho. Eu nunca assinaria por baixo uma sentença que considera sequestro a recusa de um casal entregar uma criança que tem tratado como filha ao longo de cinco anos a um pai biológico que só agora se interessou pela filha e que não esteve nunca presente nem quando soube da gravidez nem quando a criança nasceu. Como além de juiz social também sou jornalista, ouvi dizer que é uma pessoa da família do pai biológico que está a puxar os cordelinhos. E a pagar a uma equipa de advogados para ganhar a criança como se fosse um troféu de caça.
Justiça de Torres Novas: um caso em que o Direito, uma vez mais, é o maior inimigo da Justiça.»

4 comentários:

  1. Viva!

    Sabemos hoje que a hist+oria não é bem como foi contada.

    A Comunicação Social é useira e vezeira nestes espectáculos. E nunca os esclarece. Muito pelo contrário, explora-os à sua maneira, tablóide e irresponsável, sempre à espreita do escândalo. Mesmo se não o há, inventa-o. O que é preciso é vender.

    Nem sequer permite que o devido esclarecimento seja prestado em condições decentes, sempre com interrupções e persistindo na sua, ainda que vendo que... perdeu.

    O telejornal da SIC, ontem à noite, foi bem evidente dessa vertente idiota. O jornalista deu claras provas de estar completamente surdo a explicações para si e nada aberto a esclarecimentos para os telespectadores.

    Infelizmente, vivemos nesta conjuntura...

    "Caí" neste seu blog, sem tirte nem guarte. Gostei do que li. Vou linká-lo, para o apreciar com mais vagar.

    Cumprimentos

    Ruben Valle Santos

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  2. Boas

    Penso que só foi dito o que o português gosta de ouvir, ou seja
    _Coitado do sargento que ta preso!
    _Coitadinha da criança!
    _Coitadinha da mãe (que nem adoptiva é)que tem de criar a filha sozinha!

    Mas ouvir a razão e os contornos duvidosos da entrega da criança por parte da mãe, ninguém fala da possibilidade de ter havido uma lembrança para mãe por ter entregue a filha, os também complicados contornos da gravidez.
    E quando ouço as criticas ao pai que hesitou em aceitar uma filha a quente sem pensar, gostava de os ver naquela situação. Mantendo a actualidade arranjavam uns trocos para fazer um aborto ou nunca queriam mais saber.

    O porquê das as autoridades competentes, não terem entregue a criança no seu devido tempo ou seja antes de ter completado um ano quando se soube quem era o pai e que ele entrou com o pedido de guarda da criança. Uma criança com um ano não tem problemas nenhuns de ser recebida e aceitar um novo lar.

    Sei que a minha opinião reflecte uma minoria.

    Também é verdade que passei por uma situação parecida e rejeitei a criança na primeira vez, que ouvi falar que era minha (já tinha um mês e já tinha feito um teste com um possível pai). Mas no fim era minha e só a conheci aos três meses, não fico contente com isso porque perdi algo da sua vida mas tinha de ter a certeza.

    Hoje vejo o meu filho duas vezes por semana porque não me deram a guarda da criança,
    Fui até criticado por pedir isso.

    Hoje sou feliz com o meu filho, mas vivo ressentido, com aquela relação de uma noite que me trás a lembrança a depressão que tive devido a este problema.

    Pensem antes de escrever, nem tudo é como estes senhores da comunicação social nos querem passar.

    Um PAI (biológico) muito feliz!

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  3. Há várias imprecisões no texto do douto juiz social do Tribunal de Menores de Lisboa. Nem existe pai adoptivo, nem o pai biológico abandonou a mãe da criança. Estas e outras imprecisões, curiosamente todas no mesmo sentido, são desmentidas pelo texto do Acórdão do Tribunal Colectivo do Círculo Judicial de Tomar, que pode ser lido em http://www.verbojuridico.net/inverbis/index.php?option=com_content&task=view&id=139&Itemid=31

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